Alves foi diagnosticado com sarna
Jonathan Duarte/Arquivo pessoal
A família de um rapaz de 24 anos denuncia que o jovem foi vítima de maus-tratos em uma comunidade terapêutica em Ferraz de Vasconcelos.
O rapaz é esquizofrênico e autista e, segundo a família, ficou internado na unidade de maio até novembro de 2025.
A comunidade afirmou que as alegações de abandono e negligência estrutural não procedem, e que o jovem foi tratado com dignidade. A administração informou ainda que a família manteve visitas quinzenais obrigatórias e não registrou qualquer reclamação sobre a forma de acolhimento (leia a nota completa abaixo).
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Jonathan de Souza Duarte é irmão do paciente e contou que apesar da medicação o rapaz é muito agressivo. Duarte contou que durante um surto, o jovem agrediu a mãe que perdeu um globo ocular.
Por isso, a família buscou atendimento no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) que, junto à Defensoria Pública, entrou com o pedido de internação compulsória.
Em abril de 2024, a Justiça determinou que o município de Osasco, onde a família mora, e o Estado de São Paulo providenciassem a internação em uma instituição adequada às necessidades físicas e mentais do jovem.
A decisão também obrigava os órgãos públicos a arcarem integralmente com os custos do tratamento.
A sentença se tornou definitiva em maio do mesmo ano, e depois foi aberto um novo processo para cobrar que a decisão judicial fosse realmente cumprida. As informações constam no processo movido no Tribunal de Justiça de São Paulo (leia mais abaixo).
“Durante o processo, eles deram uma margem e a gente tinha que mapear até três lugares pra internação. Dentro dessas, a que chegou mais próximo do valor, que era R$ 15 mil, foi essa. Ficou um pouquinho mais barato e a gente devolveu o restante do valor”, explicou Duarte.
A família informou que em maio o jovem foi internado na unidade da comunidade de Mogi das Cruzes e cerca de um mês depois o local passou por reforma e ele foi realocado para a unidade de Ferraz de Vasconcelos.
Já o centro terapêutico contou que o jovem foi internado em fevereiro de 2025 e seu plano terapêutico finalizou em julho. De acordo com a comunidade, como a família alegou que não tinha condições de manter o jovem em casa, a entidade aceitou continuar o tratamento dele no local e passou a cobrar uma mensalidade menor do que o preço definido, até que a Justiça renovasse o plano terapêutico dele.
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O irmão do paciente afirmou que a comunidade não é especializada em pacientes com doenças psiquiátricas e que recebem pessoas em tratamento de dependência química. Segundo Duarte, depois de três meses os pacientes mais antigos passam a cuidar dos mais novos.
“São os próprios pacientes que cuidam dos pacientes, a piscina cheia de lodo, nunca havia limpeza, o espaço onde as pessoas dormem, a gente não tem acesso. Mas eu consegui acessar e levei meu irmão até o quarto, porque ele estava chorando com dor. Não tem limpeza nenhuma, colchão sem lençol, todas as pessoas estão com sarna”.
Paciente apresenta feridas por todo o corpo
Jonathan Duarte/Arquivo pessoal
Duarte contou que, em julho deste ano, durante uma das visitas, a família percebeu que o jovem apresentava inúmeras feridas pelo corpo com grande quantidade de pus. Ele foi então levado por um familiar ao médico que diagnosticou a sarna.
Após receber medicações, ele retornou à comunidade terapêutica e a família informou a administração da unidade sobre o diagnóstico.
“Até então, eles não tinham levado essa situação pra gente. Quando meus pais iam visitar ele, ele estava todo agasalhado e meus pais não perceberam. Eu vi que ele estava coçando demais e vi as feridas no corpo”.
O irmão do paciente disse que no dia 1º de novembro em uma nova visita perceberam que o rapaz tinha os mesmos sintomas e o levaram pra o Hospital Municipal de Mogi das Cruzes. Após o atendimento médico, a equipe de assistência social da unidade orientou que a família fizesse uma denúncia no Disque 100, o que foi feito no dia 3.
No dia 5 de novembro, a família registrou um boletim de ocorrência de maus-tratos contra a comunidade.
Atualmente, o rapaz está vivendo na casa dos pais. No entanto, o irmão contou que o jovem é levado todos os dias ao hospital para fazer a curetagem das feridas. “Minha mãe não consegue fazer a curetagem. Ele sente dor, fica agressivo e parte pra cima de todo mundo. Ele toma uma série de remédios, toma três ou quatro remédios”, detalhou Duarte.
A Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) informou que o caso é investigado por meio de inquérito policial na delegacia de Ferraz de Vasconcelos. “A equipe da unidade realiza diligências para esclarecer as circunstâncias do crime.”
Família denuncia maus-tratos de comunidade terapêutica
Jonathan Duarte/Arquivo pessoal
O que diz o Ministério Público
O Ministério Público de São Paulo (MPSP) disse que:
“O MPSP informa que o processo em referência é uma obrigação de fazer ajuizada pela Defensoria Pública. O juiz julgou procedente a ação para condenar o Município de Osasco e o Estado de São Paulo na obrigação de providenciar a internação em instituição adequada às suas necessidades físicas e mentais devendo arcar com os custos integrais do tratamento.
Em sede de cumprimento de sentença a Defensoria Pública, representando os interesses de Aldeir Ferreira de Sousa Duarte (curadora provisória do rapaz) e José Donizete Duarte, pede para que o jovem seja mantido na clínica que se encontra internado desde fevereiro, em Ferraz de Vasconcelos, indicada pelo Município de Osasco até a finalização de seu plano terapêutico. O relatório médico juntado no processo principal dá conta da necessidade de internação dele em razão da heteroagressividade.
A internação se deu por determinação judicial a pedido da própria família. O Município de Osasco acolheu o rapaz em uma clínica situada em Ferraz de Vasconcelos. O processo ainda está em andamento”.
O que diz o centro terapêutico
Por meio de nota, o centro terapêutico Reintegra Ferraz, informou que:
“Recebemos com surpresa e profunda indignação as denúncias de maus-tratos e negligência apresentadas pela família do jovem. Repudiamos veementemente tais acusações, que consideramos caluniosas e infundadas.
Após o término do custeio municipal, e diante da incapacidade da família em receber o paciente — acolhido de alta complexidade com histórico de agressões aos próprios pais —, nossa instituição demonstrou extrema solidariedade. Permitimos sua permanência sob nossos cuidados em caráter provisório, cobrando apenas uma ajuda de custo significativamente reduzida (R$ 1,2 mil), um gesto que, lamentavelmente, não encontrou a devida gratidão.
As alegações de abandono e negligência estrutural (sujeira, piscina não limpa) não procedem. O paciente foi tratado com a máxima dignidade e sempre esteve bem-vestido, barbeado e alegre, conforme atestam fotos e vídeos recentes que serão compartilhados com a imprensa. A família manteve visitas quinzenais obrigatórias e jamais registrou qualquer reclamação sobre a forma de acolhimento, pelo contrário, celebravam datas comemorativas em nosso espaço.
Centro terapêutico de Ferraz de Vasconcelos afirma que paciente era tratado com dignidade
Divulgação
O único problema registrado foi a dificuldade de saúde do acolhido (coceiras e ferimentos), que já chegou com as coceiras e expôs a negligência da família. Nossa equipe acionou os responsáveis para providenciar a avaliação médica e medicamentos, mas a família recusou-se reiteradamente a comparecer e cooperar, alegando que a causa era “excesso de doces”, uma justificativa infundada. Diante da omissão, nossa instituição agiu com responsabilidade e providenciou a consulta médica.
Devido à falta de cooperação familiar no tratamento e na provisão de medicamentos, solicitamos a realocação do paciente. Acreditamos que as acusações ora veiculadas são uma clara retaliação ao nosso pedido de desacolhimento e à recusa da família em quitar os valores em aberto com a instituição. É inaceitável que um gesto de solidariedade seja respondido com calúnias que visam manchar a reputação de nosso trabalho”.
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