Fisioterapia e mudança de cidade: guarda e PM baleados ainda se recuperam um ano após cerco que durou 9 horas em Novo Hamburgo; veja VÍDEOS INÉDITOS do tiroteio


PM é socorrido após ser baleado por atirador durante cerco em Novo Hamburgo
Em outubro de 2024, um cerco contra um homem que matou a própria família e policiais a tiros marcou o final do ano em Novo Hamburgo, cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre. Quatro pessoas foram mortas, e oito ficaram feridas: dois sobreviventes, um policial militar (PM) e um guarda municipal, tentam retomar a vida um ano após o trauma.
Vídeos inéditos obtidos pela reportagem do g1 mostram dois momentos de tensão durante o tiroteio: um, da câmera corporal do PM baleado, mostra o momento do tiro, e outro mostra o policial sendo arrastado por colegas para uma região segura.
Edson Fernando Crippa, o atirador, foi morto pela polícia após cerco ao imóvel, que se estendeu por nove horas. Vídeos divulgados pela polícia mostram a ação dos policias durante o cerco e o interior da casa do atirador.
O crime aconteceu em uma casa na Rua Adolfo Jaeger, no bairro Ouro Branco. Conforme a polícia, Edson estaria mantendo os pais em cárcere privado. O próprio pai teria ligado para a polícia denunciando maus-tratos. Logo que viu os policiais chegando, atirou contra eles.
“Ele atirou de forma inesperada (…) em todas as pessoas que se encontravam naquele local, na frente da residência”, conta o tenente-coronel Alexandro Famoso, da Brigada Militar (BM).
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Uma pessoa que estava fora da casa e não era policial nem familiar também foi atingida. Era o guarda municipal Volmir de Souza, que foi ao local para dar apoio aos militares. Foi baleado quatro vezes ao tentar proteger um PM, o soldado João Paulo Farias de Oliveira (saiba mais abaixo e assista ao resgate dele acima). Teve os dois pulmões atingidos e duas costelas quebradas pelos disparos do atirador, além de ter sofrido fratura em uma vértebra. Ele conta que nasceu de novo.
“Corri para tentar atirar contra a janela de onde estavam partindo os tiros, para ver se ele [o atirador] parava. Consegui efetuar uns cinco disparos e logo depois fui atingido. Caí no chão, procurei uma cobertura, ele continuou atirando e acertou mais tiros. Eu queria que ele parasse de atirar e eu pudesse, de alguma forma, me aproximar para arrastá-lo [o PM ferido]. Foram quatro tiros que atingiram o corpo, mais dois no colete, bem na altura do coração. Sem colete, eu não estaria aqui. Tenho uma segunda data de nascimento. Dá para comemorar duas vezes ao ano a minha vida”, relembra.
Volmir está há quase duas décadas na Guarda Municipal. Em 19 anos de ofício, afirma que foi a primeira vez que se viu em meio a uma troca de tiros durante atendimento a uma ocorrência. Ele é casado e tem dois filhos adultos: um homem de 29 anos, e uma mulher, de 22. Hoje, já voltou a vestir a farda, passou por uma cirurgia recente e faz fisioterapia.
“Estou me recuperando bem, apesar de todos os estragos. A gente vai continuar o trabalho. É o ofício que a gente escolheu, e a gente já sabia desde o início de todos os perigos que envolve. A gente vai continuar na ativa, fazendo o que tem que ser feito”, sustenta.
Guarda municipal sobreviveu a ataque a tiros em Novo Hamburgo
Reprodução/RBS TV
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PM baleado mudou de cidade
Soldado João Paulo Farias de Oliveira junto da esposa e do filho
Arquivo pessoal
João Paulo Farias de Oliveira, de 27 anos, é o PM que Volmir tentou ajudar. Ele foi baleado diversas vezes. Quando caiu no chão após ser atingido, começou a fazer o sinal da cruz, pois acreditava que ia morrer. Mas foi salvo por colegas. Ficou hospitalizado por 18 dias, sendo nove deles em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
Ele conta que, hoje, entende que superou o que aconteceu, mas que precisou do último ano para se recuperar mental e fisicamente.
“Eu fui baleado na cabeça, na região da barriga, precisei de ajuda para voltar a caminhar. Fiz fisioterapia e tive acompanhamento psicológico”, conta.
Hoje, ele reside em Portão, cidade que fica distante cerca de 20 km de Novo Hamburgo, com a esposa e o filho, de 2 anos. Ficou internado até 9 de novembro de 2024. Soldado Farias, como é chamado pela BM, voltou a trabalhar em 5 de fevereiro deste e relembra com orgulho da ajuda que recebeu dos colegas que tentavam socorrê-lo quando foi atingido pelos tiros.
“Quando fui trabalhar, o meu plano era retornar para casa, nunca imaginei que isso poderia ter acontecido. Eu fui surpreendido com a possibilidade da morte. Mas ver os meus colegas se esforçando, naquela situação, para me salvar, me encheu de orgulho. Sou muito grato. E vivo com uma visão diferente da vida depois disso. Dou o meu melhor todos os dias”, conta.
Investigação
PM foi baleado por atirador durante cerco em Novo Hamburgo
Arquivo pessoal
Dentro da casa de onde partiram os tiros, a BM encontrou quatro armas e “farta munição”. O criminoso tinha registro de colecionador, atirador desportivo e caçador (CAC) apesar de histórico de doença mental. De acordo com a Polícia Civil, testemunhas relatam que a motivação para o crime “apontam no mesmo sentido, de um problema familiar, de um problema tanto dele [o assassino], quanto do pai e da família, de esquizofrenia”.
Das quatro armas que ele tinha, só uma estava registrada no nome de Edson, uma pistola calibre .380. Como ele obteve as outras armas ainda não está claro.
O Ministério Público conta que não pode dar prosseguimento a um caso criminal se o acusado morrer, o que é chamado de “extinção de punibilidade devido à morte”.
“A morte do réu é uma das causas de extinção da punibilidade, conforme previsto no artigo 107, inciso I, do Código Penal Brasileiro”, disse.
Imagens mostram interior de casa onde atirador matou familiares e PMs no RS
Quem são os mortos
Edson Fernando Crippa, 45 anos, atirador
Eugênio Crippa, de 74 anos, pai do atirador
Everton Crippa, 49 anos, irmão do atirador
Everton Kirsch Júnior, de 31 anos, policial militar
Rodrigo Weber Volz, de 31 anos, policial militar
Mortos durante cárcere privado em Novo Hamburgo são enterrados em São Leopoldo
Jean Peixoto/Agência RBS
Quem são os sobreviventes
Cleris Crippa, 70 anos (mãe do atirador)
Priscilla Martins, 41 anos (cunhada)
João Paulo Farias Oliveira, 26 anos (policial militar)
Joseane Muller, 38 anos (policial militar)
Eduardo de Brida Geiger, 32 anos (policial militar)
Leonardo Valadão Alves, 26 anos (policial militar)
Felipe Costa Santos Rocha (policial militar)
Volmir de Souza, 54 anos (guarda municipal)
Paredes com marcas de tiros após cerco em Novo Hamburgo
Polícia Civil/Divulgação
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