Lula se diz ‘otimista’ sobre possível encontro com Donald Trump
Integrantes do governo federal pregam cautela nas negociações para uma reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, a fim de discutir a sobretaxa de 50% imposta pelos norte-americanos aos produtos brasileiros.
No Palácio do Planalto e no Ministério das Relações Exteriores (MRE), avalia-se que seria mais prático e prudente um primeiro contato por telefone ou vídeo para depois os presidentes terem uma reunião presencial.
O encontro presencial não está descartado, porém, há dificuldade das agendas. Visitas de presidentes costumam exigir meses de negociação entre os países. Outra hipótese seria uma reunião em outro país.
A possibilidade de um encontro entre Lula e Trump foi anunciada na terça-feira (23) pelo líder americano durante na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
🗓️ Na ocasião, Donald Trump disse que acertou uma conversa na próxima semana, o que ainda não foi confirmado pelos dois governos.
Lula e Trump
Adriano Machado/Reuters; Evelyn Hockstein/Reuters
🤝 O presidente norte-americano discursou logo após a fala de Lula, e os dois tiveram um pequeno contato, no qual se cumprimentaram e concordaram em conversar. Segundo Trump, houve uma boa “química” entre Lula e ele.
Lula afirmou após o encontro que “aquilo que parecia impossível deixou de ser impossível e aconteceu” sobre encontro com Donald Trump durante a Assembleia Geral da ONU e que “pintou uma química mesmo” com o presidente dos Estados Unidos.
Em entrevista à RedeTV, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) afirmou na sexta-feira (26) que o possível encontro entre Lula e Trump seria “marco fundamental”.
“Encontro com Lula e Trump é marco fundamental. A mensagem de Trump foi importante. Deve ter novos desdobramentos. Defendemos diálogo e negociação”, disse.
Contato em negociação
👉🏽 Segundo fontes do governo brasileiro, até o momento não estão definidos data, formato e local da conversa entre os dois presidentes.
A diplomacia brasileira considera um telefonema ou videochamada a forma mais rápida para viabilizar o contato, já que não exige viagens e facilita casar as agendas dos presidentes.
Para auxiliares, a estratégia permitiria a Lula e Trump tirarem dúvidas e identificarem pontos de convergência e divergência na negociação comercial. Eles também poderiam estabelecer aos poucos uma relação de confiança.
🛫 Em outubro, Lula tem viagens previstas para Itália, Indonésia e Malásia. No final do mês, há possibilidade de Trump ir à Malásia para cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), evento que terá a participação de Lula.
Trump diz que abraçou Lula e que tiveram ótima química
Relação delicada
A difícil relação de Lula com Trump, desde que o presidente norte-americano foi eleito no final de 2024, faz com que o trabalho da diplomacia brasileira seja cauteloso e discreto.
👉🏽 Trump tem histórico de idas e vindas de posições e, conforme diplomatas, há o receio de recuo sobre a reunião com Lula, em especial porque auxiliares do líder americano podem tentar atrapalhar a aproximação entre os presidentes.
Interlocutores do Itamaraty ressaltam que, ao longo dos últimos meses, foi divulgada nos Estados Unidos desinformação a respeito do Brasil, em especial pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL) a respeito do julgamento do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Trump determinou o tarifaço para interferir nos casos de Bolsonaro, porém a pressão não teve efeito. O ex-presidente foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe e outros crimes.
Lula reafirmou na ONU que a independência do Judiciário e da soberania do Brasil não são temas a serem questionados.
Entretanto, ele reforçou em discursos e entrevistas que está aberto a dialogar sobre comércio com Trump. Temas como regulação de big techs e exploração de terras raras são de interesse dos americanos.
Pressão comércio brasileiro nos EUA
Avaliação de especialistas que o Brasil deve permanecer com a mesma postura firme diante as brechas de negociações abertas pelos Estados Unidos.
“No campo político e simbólico, a tendência é que o governo reforce que não se trata de concessão em troca de favores, mas que são capazes de trazer uma negociação justa e em pé de igualdade. O mercado brasileiro em Whashington pode pressionar para uma resposta”, afirma o professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Laerte Apolinário.
Nos últimos cinco anos, 70 empresas, como JBS e Embraer, anunciaram projetos nos Estados Unidos. Todas geraram mais de 2,5 mil empregos e um bilhão de dólares para a economia norte-americana.
“É provável que o encontro tenha um caráter mais discreto do que outros encontros que o Donald Trump promoveu na Casa Branca, como foi com Zelensky e com outros representantes, que gerou um certo espetáculo, um clima de humilhação aos outros líderes”, analisa a professora de Relações Internacionais da Unifesp Carolina Silva Pedroso.
Joesley Batista, da JBS, se encontrou com o Trump há três semanas na Casa Branca. A informação foi antecipada pelo jornal “Folha de São Paulo” e confirmada pelo blog do Octavio Guedes.
“Do lado americano, há pressões fortes de setores privados, as tarifas têm gerado impactos negativos em áreas específicas, e isso explica um recuo parcial americano. Já no Brasil, a postura é de cautela, dada a imprevisibilidade de Trump”, considera o professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Rodrigo Amaral.
Por mais que os países não cheguem a um acordo, especialistas avaliam que as chances de que o Brasil saia rechaçado após o contato com o americano são mínimas, devido à parcimônia brasileira demostrada mediante as tratativas do país.
“A economia brasileira mostrou nos últimos meses resiliência em face ao tarifaço do Trump. Nesse sentido, acho que seria menos provável que Trump conseguisse colocar Lula nas cordas da mesma forma como fez com Zelensky”. […] Até pelo fato de que o discurso nacionalista de Lula nos últimos meses de defesa da soberania nacional tem lhe rendido dividendos eleitorais. Lula não aceitaria ser humilhado”, analisa Apolinário.