Vítima de furto em apartamento na Gávea conta que encontrou porta arrombada
Uma rede criminosa formada por adolescentes tem se especializado em furtos a apartamentos de alto padrão em diversas regiões do Brasil. Investigações das polícias do Rio de Janeiro e de São Paulo identificaram vários dos criminosos envolvidos na ação.
De acordo com as corporações, geralmente, os jovens têm entre 16 e 24 anos e são recrutados desde cedo em bairros como Cambuci e Brás, na capital paulista.
Eles passam por um processo de “formação” e depois são enviados para atuar em outros estados, como Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Bahia, Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, além de São Paulo.
No Rio, a Polícia Civil identificou um dos adolescentes, de 15 anos, como o autor de um furto a um apartamento na Gávea, Zona Sul, ocorrido no último sábado (4). O prejuízo estimado pelo morador é de mais de R$ 650 mil. Não é a primeira vez que ele age no Rio.
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De acordo com a 15ª DP (Gávea), em janeiro desde ano, o mesmo menor e outros dois comparsas, um deles maior de idade, tentaram entrar em um apartamento no Jardim Botânico.
O porteiro desconfiou, e a farsa não foi à frente. No entanto, na Tijuca, Zona Norte, o grupo conseguiu invadir um apartamento, causando um prejuízo de mais de R$ 20 mil ao proprietário. O motorista da quadrilha foi preso após a ação.
Adolescente de 15 anos faz parte de quadrilha de São Paulo que atua em furtos no Rio, segundo a Polícia Civil
Reprodução circuito interno
Segundo investigações conduzidas pela 15ª DP e pela 4ª Delegacia de Investigação sobre Furtos e Roubos a Condomínios e Residências (Disccpat), os adolescentes são cooptados por criminosos mais experientes, que ficam responsáveis pela logística e apoio à fuga.
Segundo a Daniela Terra, titular da 15ª DP, os furtos ocorrem principalmente em bairros nobres e em períodos estratégicos como feriados prolongados, férias escolares e fins de semana, quando os imóveis costumam estar vazios.
Modus operandi discreto e eficiente
Segundo a polícia, os criminosos chegam de carro e costumam se hospedar em hotéis ou em comunidades próximas aos bairros onde pretendem agir. Eles se vestem bem e, por serem brancos e jovens, conseguem evitar suspeitas.
Adolescente de 17 anos é preso por invadir apartamentos de luxo
Reprodução/TV Globo
Em dupla ou em trio, circulam pelas ruas até identificar prédios com pouca movimentação. Alegam visitar parentes para conseguir acesso e, uma vez dentro, usam ferramentas simples — como uma chave de fenda — para abrir portas e realizar os furtos.
“Eles pegam o elevador e vão até o último andar dos prédios. A partir daí, eles descem pelas escadas, escutam os sons nos apartamentos e entram nos que estão vazios. Levam apenas joias, dinheiro e bolsas de grife. Evitam eletrônicos por causa da rastreabilidade”, explica a delegada.
Impunidade e reincidência
Segundo os investigadores, muitos dos adolescentes apreendidos acabam sendo liberados pouco tempo depois.
A delegada Daniela Terra explicou que, pela legislação atual, o furto simples — quando não há violência ou ameaça — é considerado um crime de menor potencial ofensivo, o que dificulta a manutenção da apreensão dos menores.
“Já tivemos casos em que juízes negaram a prisão por entenderem que não há periculosidade. Mesmo quando tentamos enquadrar como associação criminosa, eles acabam soltos”, lamenta a delegada.
A reincidência é frequente. Após serem liberados, muitos jovens voltam a cometer os mesmos crimes, e as técnicas utilizadas são repassadas entre eles.
“Há uma espécie de escola do crime. Os mais velhos ensinam os mais novos, e a impunidade alimenta esse ciclo”, afirma o delegado Fábio Sandrin, da 4ª DP.
Venda dos produtos e inteligência criminosa
Os bens furtados, como relógios Rolex e bolsas de grife, são vendidos em comunidades e para receptadores ligados a outras quadrilhas.
Adolescente de 17 anos é preso por invadir apartamentos de luxo
Reprodução/TV Globo
Antes de agir, os adolescentes fazem levantamentos detalhados nas redes sociais, observando hábitos, viagens e ostentações dos moradores.
Em alguns casos, também obtêm informações de vizinhos e porteiros para confirmar que os apartamentos estarão vazios.
Prevenção e alerta às autoridades
Apesar dos esforços das forças de segurança — como a operação conjunta com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Santa Catarina, que prendeu um grupo em janeiro —, os furtos continuam ocorrendo.
“A prevenção precisa ser constante. Mesmo com prisões, outros jovens são recrutados. É um ciclo difícil de quebrar”, alerta Daniela Terra.
As autoridades orientam que moradores de bairros nobres redobrem a atenção durante feriados e períodos de férias, mantenham contato constante com a portaria e evitem divulgar rotinas ou bens nas redes sociais.