Movimento Anticomunista realizou atentados em Fortaleza contra abertura política em 1980
Na madrugada de 9 de agosto de 1980, estrondos assustaram moradores dos bairros Parquelândia e Parangaba, em Fortaleza. Em dois pontos da cidade, bancas de revistas foram atacadas com bombas caseiras. Este era o início de uma série de ataques realizados pelo mesmo grupo de extrema-direita na capital cearense, há 45 anos.
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Até o mês de julho, as ações do Movimento Anticomunista eram pichações pelos muros. Também conhecido pela sigla MAC, o grupo com jovens da classe média ainda faria pelo menos outros três atentados pela cidade, com riscos maiores a cada episódio.
Os alvos seguintes foram uma igreja, um prédio do movimento estudantil e a movimentada Praça do Ferreira, considerada um dos corações de Fortaleza. Tentativas de sequestro e de expansão dos atentados para outras cidades integraram os planos do MAC.
A atuação do grupo intensificava uma atmosfera de pânico e demarcava a posição de pessoas contrárias à abertura política nos últimos anos da ditadura civil-militar no Brasil.
Os detalhes desta atuação são trazidos pelo historiador Airton de Farias, que levantou dados sobre grupos terroristas favoráveis ao regime neste período (confira no vídeo acima).
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Como fruto da pesquisa de pós-doutorado, o professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) publicou o livro “Explosões Conservadoras: atentados de extrema-direita na abertura da ditadura civil-militar (1980-82)”. A obra é uma dentre mais de dez livros dele dedicados à história do Ceará.
Para o autor, o grupo cearense traz um exemplo peculiar de extremismo idealizado por civis, com jovens de classe média e estudantes da universidade pública apoiando o autoritarismo.
O movimento não contava com militares, fugindo ao perfil dos principais grupos daquele período. E destoou também por ter sido exposto para a sociedade durante o inquérito policial, meses após os atentados.
As características do MAC ajudam a compreender mais elementos de um período complexo, com setores sociais diversos que expressavam anseios e temores sobre os rumos do país, como complementa Ana Rita Fonteles, professora do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Como foram os ataques
Praça do Ferreira, em Fortaleza, foi um dos alvos dos atentados do Movimento Anticomunista
Arquivo Assis Lima/Acervo Digital de Fortaleza
Os atentados do Movimento Anticomunista no Ceará tiveram alvos diversos no segundo semestre de 1980. A atuação do grupo foi divulgada pela imprensa, tanto pelos episódios como pela prisão de alguns membros no mês de novembro.
Foi encontrando uma destas notícias em um jornal paulista que Airton de Farias descobriu sobre a existência do MAC no Ceará durante pesquisas para o doutorado.
“Isso me chamou muita atenção porque eu não tinha ideia de que isso tinha acontecido. E aí percebi que, na verdade, o MAC era apenas um grupo entre tantos outros grupos e indivíduos que estavam atuando no país todo no final dos anos 70, começo dos 80. Esse é um dos assuntos menos estudados ou menos conhecidos pelo grande público”, afirmou em entrevista ao g1.
Em 1980, não eram raras as ameaças de bombas em Fortaleza. Telefonemas anônimos geravam apreensão em sedes de jornais, entidades de classe e repartições públicas, por exemplo.
No mês de julho, os membros do MAC começaram a fazer pichações consideradas apolíticas no período da noite. Mas a partir de agosto, os atentados começaram a chamar mais atenção.
Confira a cronologia e os detalhes dos atentados:
➡️ 9 de agosto: o grupo lançou coquetéis molotov contra duas bancas de revistas no período da noite. Uma delas ficava na praça da Igreja de Santo Afonso, no bairro Parquelândia. Horas depois, o alvo foi a banca de jornais na Praça da Parangaba.
Cinco jovens do MAC estavam de carro e lançaram os artefatos de dentro do veículo. No ataque da Parquelândia, o coquetel levou a um princípio de incêndio na banca. Um morador da vizinhança conseguiu avisar o dono da banca, e o fogo foi controlado.
Mais tarde, o atentado semelhante foi realizado na Parangaba. O ataque não foi noticiado à época, vindo a ser revelado durante as investigações sobre o grupo.
➡️ 10 de setembro: ataque contra a Igreja Nossa Senhora de Nazaré, no bairro Montese, durante a madrugada. Para a ação, os membros utilizaram dois carros. Dois coquetéis molotov foram lançados contra a porta lateral do templo. Na parede, eles deixaram pichações.
As frases eram “Abaixo os padres comunistas”, “Abaixo a Igreja comunista” e “MAC – Movimento Anticomunista”. O fogo foi debelado por uma pessoa da vizinhança, e a porta da igreja foi parcialmente danificada. Foi a primeira vez que o grupo deixou a própria sigla no local do atentado.
➡️ 30 de setembro: o grupo jogou uma bomba caseira na sede do Diretório Central dos Estudantes (DCE), da Universidade Federal do Ceará (UFC). Na noite da ação, estudantes estavam reunidos no local na véspera das eleições do diretório. A bomba foi lançada em direção a uma sala, mas explodiu no ar antes do tempo e danificou uma porta e dois veículos estacionados.
Antes do atentado, o grupo havia se encontrado em um motel do bairro Praia do Futuro para montar o explosivo. O artefato continha pólvora em um cilindro de metal, com pavio de bomba junina. Segundo inquérito da Polícia Federal, o impacto da bomba seria capaz de ferir e matar pessoas.
➡️ 5 de novembro: o atentado com bomba caseira foi realizado na Praça do Ferreira por volta das 18h30, horário com grande circulação de pessoas saindo dos comércios e voltando para casa. Uma dinamite dentro de uma caixa de papelão foi colocada em uma lata de lixo em um dos canteiros da praça.
O letreiro de uma loja de roupas e os vidros de um carro foram danificados. O barulho e a nuvem de poeira e lixo levantada gerou pânico e correria no local.
Conforme o historiador, a imprensa noticiava esses tipos de atentados em várias cidades brasileiras. A atmosfera de pânico era complementada por ameaças e trotes constantes. Até agora, não há evidências de que os grupos extremistas agiam de forma coordenada.
Após os atos cometidos em Fortaleza, o MAC se articulou para expandir a atuação para Recife. Uma ação que eles não conseguiram concretizar seria o sequestro da filha de um empresário. Os membros tinham, inclusive, alugado um apartamento onde manteriam a menina.
“Lembrando que Recife era um centro político bem mais importante que Fortaleza. O que acontecia em Fortaleza não era tão repercutido no país. Então esse grupo teria tramado agir em Recife, praticar algum sequestro para conseguir recursos, atacar algum shopping, fazer mesmo algum assalto para financiar outras ações extremistas”, detalha Airton.
Foi no deslocamento entre Fortaleza e João Pessoa que três membros foram parados em uma blitz na Paraíba, portando duas máscaras e armas. Inicialmente confundidos com ladrões de carros, os jovens confessaram a participação no grupo, que passou a ser investigado pela Polícia Federal.
No mês de dezembro, uma entrevista coletiva foi convocada na sede da PF em Fortaleza. Os jornalistas tiveram acesso direto aos envolvidos e puderam fazer perguntas para eles. Como aponta o historiador, a identidade deles foi exposta como uma tentativa de dar uma resposta à sociedade.
Quem eram os membros do MAC
Inquérito da Polícia Federal na Paraíba detalhou atentados cometidos pelo Movimento Anticomunista no Ceará
Reprodução/Arquivo Nacional
Nomes, fotos e detalhes sobre a vida dos integrantes ficaram conhecidos à época. No livro sobre o tema, o pesquisador Airton de Farias optou por criar pseudônimos para cada um.
Nove pessoas envolvidas no Movimento Anticomunista foram identificadas no inquérito da Polícia Federal, em dezembro de 1980. A maioria era composta de universitários de classe média, moradores de “bons bairros” de Fortaleza, conforme o documento oficial. Dois deles ficaram foragidos.
Nos interrogatórios, os jovens detidos se assumiram como conservadores e apoiadores da ditadura civil-militar, agindo por discordarem do processo de liberalização do regime.
Conheça o perfil dos envolvidos:
um engenheiro civil e matemático, formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e funcionário público, de 28 anos, apontado como líder do grupo
um carpinteiro de 27 anos, considerado foragido
um estudante de Física na UFC, de 25 anos
um estudante de Agronomia na UFC, de 22 anos
um estudante de Agronomia na UFC, de 22 anos, considerado foragido
um estudante de Engenharia de Pesca na UFC, de 22 anos
um estudante de Geologia na UFC, de 21 anos
um estudante universitário de 20 anos
uma estudante de Direito na UFC, de 18 anos, apontada como namorada do líder do grupo
A composição do grupo é vista como uma oportunidade de refletir sobre os grupos extremistas da época. Primeiro porque eles eram todos civis, sem ligações com os militares ou com o aparato estatal da ditadura.
Para Airton de Farias, este fator ajuda a destacar que o anticomunismo também foi um motivador para grupos de extrema-direita no período.
Isso porque, quando os ataques eram vinculados a militares e pessoas envolvidas na estrutura do regime, as motivações atribuídas eram o medo destas pessoas em perder capital político ou em receber punições em um cenário de democratização do país.
O segundo fator é o envolvimento de estudantes universitários a favor do regime autoritário. Desta forma, o MAC evidenciou o engajamento de jovens que temiam a possibilidade de um governo comunista no Brasil. O grupo até mesmo escolheu o movimento estudantil de resistência à ditadura como um dos alvos (veja mais detalhes abaixo).
“É uma outra coisa importante: a gente não idealizar a juventude. Existe uma percepção muito comum, das pessoas verem os jovens como naturalmente revolucionários, questionadores, de esquerda. Isso não tem fundamento acadêmico nem empírico”, comenta.
Durante os anos de pesquisa sobre o MAC, o pesquisador conseguiu descobrir o contato de quatro dos ex-integrantes do grupo. Nenhum deles deu retorno às tentativas de contato ou concordou em comentar sobre o assunto.
Os alvos escolhidos
Sede de jornal de Belo Horizonte após atentado de outro grupo com o nome Movimento Anticomunista, em 1978
Memórias Reveladas/Arquivo Nacional
As ações do grupo mostram que o período de distensão da ditadura também contou com o engajamento de uma direita radicalizada no Brasil, como destaca a historiadora Ana Rita Fonteles, que orientou a pesquisa do professor Airton de Farias.
“A pesquisa faz a gente pensar em pessoas que se sentiam afetadas, amedrontadas, que achavam que tinham que tomar uma postura […]. E que, a partir disso, resolveram inclusive arriscar suas vidas, suas reputações. No caso aqui do Ceará, a gente tem jovens estudantes, civis ligados a famílias de mais recursos, cursando a universidade. E que arriscam as suas posições para cometer violências, assumindo ali o risco de matar, também o risco de morrer”, detalha Ana Rita.
No Brasil, houve outros grupos com nomes semelhantes. Em 1978, por exemplo, imagens disponíveis no Arquivo Nacional mostram um atentado a bomba na sede de um jornal de Belo Horizonte, cometido por outro grupo também denominado de Movimento Anticomunista (ver foto acima).
O anticomunismo, defendido pelo MAC, é apontado por Airton como um elemento importante da cultura brasileira no século XX. Ele está presente desde os anos 1920, com uma forte oposição ao comunismo após a Revolução Russa.
E ganhou força em outros períodos, como no golpe militar de 1964, num contexto em que o então presidente João Goulart era acusado de ser comunista. O temor de ver um regime comunista no Brasil também se manifestou nos anos 1980, quando não era possível prever se haveria um fim da ditadura e o que viria depois dela.
“Esse anticomunismo tem um componente moral de defender os bons costumes, a família, a tradição. Tem um viés liberal, de ver o liberalismo [econômico] como inimigo do comunismo. E também um viés nacionalista conservador, que vê o comunismo como um agente externo internacionalista, que põe em risco a ordem interna e a pátria”, explica Airton.
Os atentados de grupos extremistas no Brasil se acentuaram a partir de 1979. O país passava pelo processo de liberação das medidas autoritárias, e aquele ano marcou a aprovação da Lei da Anistia e o retorno de exilados políticos, como Leonel Brizola, Miguel Arraes e Luiz Carlos Prestes.
Em 1980, banca no Rio de Janeiro sofreu atentado por vender jornais de oposição à ditadura
Memórias Reveladas/Arquivo Nacional
O pesquisador detalha, também, o contexto por trás dos alvos escolhidos pelo MAC em Fortaleza: as bancas de revistas, uma igreja, o prédio do movimento estudantil e uma praça.
📍 Bancas de revista: naquele período, os donos de bancas de revistas eram hostilizados e recebiam ameaças anônimas. Um dos motivos era a venda de exemplares da imprensa alternativa, com críticas à ditadura. Outra discussão que mobilizou a sociedade foi o sucesso das revistas eróticas, que haviam deixado de ser censuradas. O fenômeno chegou a ser chamado de “depravação democrática”.
📍 Igreja: parte dos religiosos e dos líderes católicos tiveram papel importante na contestação ao regime militar, na articulação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e nas denúncias sobre as violações dos direitos humanos. À época, o arcebispo de Fortaleza era Dom Aloísio Lorscheider, importante liderança do clero progressista.
📍 Prédio do DCE: a revitalização dos movimentos estudantis foi observada no fim dos anos 70, com mobilização das esquerdas para contestar o regime militar em todo o país. Na UFC, o atentado do MAC foi às vésperas das eleições discentes. Veveu Arruda, que posteriormente foi prefeito de Sobral, era um dos candidatos.
📍 Praça do Ferreira: considerado um dos locais mais importantes da cidade, a praça costumava concentrar o fluxo de várias linhas de ônibus. Desta forma, o atentado foi realizado em local de grande circulação, chamando atenção de uma multidão que se deslocava pelo Centro.
Em depoimento à polícia, um dos membros revelou que o grupo celebrava, na ocasião do atentado à praça, a vitória de Ronald Reagan para a presidência dos Estados Unidos — nome expressivo da campanha anticomunista.
Rumos indefinidos para o Brasil
No fim dos anos 70, houve uma convergência de movimentos e segmentos sociais que se opuseram à ditadura e que defendiam causas diversas.
Dentre eles, estavam os movimentos de mulheres, estudantes, intelectuais, operários e familiares de desaparecidos políticos, como comenta Edmilson Maia, professor do curso de História na Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central (FECLESC) da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
Prisão de metalúrgico em protesto durante greve no ABC paulista, em álbum de fotografias tiradas entre 1979 e 1980.
Memórias Reveladas/Arquivo Nacional
No entanto, ele destaca que houve também resistência ao movimento de abertura política, principalmente entre setores que participaram, negociaram ou foram cúmplices do regime militar em várias fases.
“Para muita gente, incomodava que esse movimento estivesse surgindo e que, no horizonte, houvesse esse cenário de fim da ditadura, onde também você não sabia como é que ia ficar em relação a prisões, como seria essa redemocratização, que tipo de consequências iria ter. A Lei da Anistia representa bem essa tensão porque permite a volta de vários perseguidos políticos, mas também legitimou a não punição de envolvidos nos crimes da ditadura”, pontua Edmilson.
O professor complementa que os últimos anos do regime militar contaram com um processo lento de abertura, acompanhado do clima de vigilância e de indefinição sobre o futuro.
Como contextualiza a historiadora Ana Rita Fonteles, as ideias de uma abertura democrática haviam sido levantadas no início dos anos 70. No entanto, o “milagre econômico” vivenciado ao longo da década foi um fator que adiou este processo.
“Há uma dificuldade para essa pauta se impor, tendo em vista a euforia com o milagre econômico, com o benefício das classes média e alta, especialmente. No caso dos setores médios, as políticas de financiamento, a casa própria, o carro popular, o acesso a viagens fez com que muita gente, em nome da ascensão social ou econômica, fechasse os olhos para esse tipo de pauta”, analisa Ana Rita.
Diante das dificuldades econômicas e perdas no valor de compra a partir de 1975, ela contextualiza que o empresariado reivindicava mais liberdade de investimentos, enquanto a população se via descontente em um cenário de inchaço das grandes cidades e piora nas condições de vida.
O processo de abertura política não foi consensual, nem dentro do governo nem dentro das Forças Armadas. Conforme a pesquisadora, mesmo dentro do chamado campo democrático havia uma indefinição sobre rumos para o futuro. Ela aponta que a pauta que mais unificou as esquerdas foi uma denúncia sistemática às práticas de tortura.
Desta forma, mesmo as medidas que levaram à abertura política não encontraram um consenso à época. Um exemplo é a Lei da Anistia, que não resultou na investigação e na punição dos crimes da ditadura, como defendiam os movimentos sociais.
Como aponta Airton de Farias, a distensão do regime não trazia certeza alguma de uma futura democratização ou de uma institucionalização do governo militar. O cenário era fértil para a insegurança, seja para críticos ou apoiadores da ditadura.
O atentado do Riocentro
Documentos americanos indicam que atentado ao Riocentro foi organizado por militares
Um atentado de grande repercussão no Brasil foi o ataque realizado em 1981 no Riocentro, organizado por militares com o objetivo de atrasar a abertura política e atribuir o episódio a militantes de esquerda.
Na noite do dia 30 de abril, cerca de 20 mil pessoas estavam no centro de convenções da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Vários artistas haviam sido anunciados para as festas do Dia do Trabalho.
Após as 21h, uma bomba explodiu em um carro Puma. Dentro do veículo, um sargento morreu e um capitão ficou ferido. Os dois integravam o Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).
Na mesma noite, uma segunda explosão aconteceu na subestação de força do Riocentro. O atentado gerou uma crise no governo de Figueiredo, com perguntas sobre por que as bombas estavam nos carros dos militares que foram atingidos.
Conforme o historiador Edmilson Maia, os comunistas foram apontados como autores do atentado. No entanto, a opinião pública não se convenceu.
“O objetivo deles [militares] era criar um grande fato para legitimar um novo fechamento que acabasse com o processo de abertura”, detalha. As cobranças de investigações sobre o caso, no entanto, continuaram a pressionar o governo.
Documentos da inteligência norte-americana que estão no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro mostram que, um mês após o atentado, autoridades do governo militar sabiam que o ataque havia sido organizado por militares brasileiros (veja vídeo acima).
Até hoje, ninguém foi punido pelo atentado público, que poderia ter feito um número bem maior de vítimas, destaca Edmilson Maia.
Apesar da exposição, MAC também não foi punido
No Ceará, os atentados promovidos pelo MAC vieram quase um semestre antes do episódio do Riocentro. Após serem expostos em entrevista coletiva, os membros do grupo cearense foram retratados na imprensa da época como terroristas de direita e até como figuras exóticas.
Como detalha Airton de Farias, havia nesses anos uma pressão para que o governo apurasse a onda de atentados que já se espalhava.
Uma hipótese é que o grupo tenha sido usado pelo governo Figueiredo como uma resposta à sociedade, visto que a ausência de militares no movimento evitaria atritos com as Forças Armadas.
“A exposição foi absurda, os jornais da época tiveram informações sobre esses extremistas… Nome do pai, nome da mãe, nome da namorada, onde moravam, quem eram os amigos, o que eles faziam. A quantidade de informações é impressionante”, comenta Airton.
Um dos membros, identificado como carpinteiro, ficou foragido durante todo o processo. Os membros que foram detidos ficaram presos por alguns meses, mas conseguiram ser liberados após conseguirem habeas corpus.
O julgamento do grupo foi realizado em 1982. Como aponta o pesquisador, aquele ano já trazia um novo contexto na política: o episódio do Riocentro já havia passado, as discussões se voltavam para as eleições dos governadores estaduais, e a ideia de democratização do país parecia mais próxima.
Naquele ano, a Justiça Militar transferiu o processo para a Justiça Civil. Assim, as ações do MAC já não foram consideradas como ameaças à segurança nacional, tendo sido julgadas apenas pelos danos materiais causados pontualmente. Nenhum dos membros foi condenado pelos atentados.
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