IA pode detectar submarinos camuflados? Por que declaração da China é contestada por especialistas


Submarino dos EUA, da classe Ohio, em exercício em Okinawa, Japão, em 2021
Marinha dos EUA / Sgt. Audrey M. C. Rampton
Desde sempre, parte do arsenal da guerra psicológica consiste em ressaltar a própria superioridade por meio de inovações tecnológicas e, ao mesmo tempo, sugerir que os adversários são incapazes de contê-las.
A recente declaração chinesa, divulgada pelo jornal South China Morning Post, publicado em Hong Kong, também pode ser observada dentro desse contexto.
Conforme o veículo, uma equipe liderada por Meng Hao, engenheiro-chefe do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Helicópteros da China, criou um sistema de inteligência artificial (IA) que reduz para apenas 5% a chance de submarinos modernos permanecerem camuflados.
Um estudo publicado na revista especializada Electronics Optics & Control, indicou que dispositivos de IA podem, pela primeira vez, avaliar dados de medição a partir de diferentes fontes. Mas especialistas apontam que a implementação de um sistema como esse não seria simples.
Entre elas, estão sonoboias, usadas para detectar sons de submarinos e transmiti-los via rádio; microfones subaquáticos; e dados de temperatura e salinidade da água.
Tudo isso de maneira simultânea e em tempo real, criando um mapa dinâmico do ambiente no fundo do mar.
A IA também pode reagir de forma flexível a contramedidas como manobras em zigue-zague, lançamentos de drones ou dispositivos de distração.
Em simulações computacionais, o sistema conseguiu localizar o alvo com sucesso em cerca de 95% dos casos. Isso colocaria em xeque os métodos comprovados de camuflagem e defesa contra submarinos.
Outro avanço importante é que a IA traduz todos esses dados complexos em recomendações simples e claras, o que auxilia militares a tomar decisões corretas rapidamente mesmo em situações de estresse.
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Os desenvolvedores liderados por Meng Hao querem, em versões futuras, que o sistema de IA trabalhe em estreita colaboração com “enxames” de drones, navios de superfície e robôs subaquáticos autônomos.
O objetivo é criar uma rede de caça tridimensional com aprendizagem autônoma que se adapte a estratégias de evasão cada vez mais sofisticadas e “escaneie” o oceano em tempo real.
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O dilema das potências mundiais
Se os desenvolvimentos citados acima se concretizarem, pilares centrais das atuais estratégias de defesa ficariam seriamente ameaçados.
Os três pilares da dissuasão nuclear, também conhecidos como “tríade nuclear”, consistem em mísseis balísticos intercontinentais, baseados em terra, bombardeiros estratégicos e mísseis balísticos lançados por submarinos.
Esses três sistemas de lançamento são concebidos para dissuadir um potencial agressor de um ataque nuclear, pois garantem a capacidade de um contra-ataque confiável.
Unidades navais inteiras, que até agora dependiam do jogo estratégico de esconde-esconde dos submarinos nucleares, enfrentariam tempos difíceis.
Guerra psicológica
As táticas militares, porém, não incluem apenas a dissuasão, mas também a guerra psicológica. Mensagens com esse tipo de conteúdo têm o objetivo de consolidar a superioridade estratégica na percepção pública.
Não faz muito tempo, a China exibiu de maneira ostensiva sua presença em áreas marítimas estrategicamente importantes, como o Estreito de Taiwan e os mares da China Meridional e Oriental.
Taiwan é particularmente importante para a frota chinesa. O motivo é que os submarinos chineses precisam partir principalmente das bases de Yulin e Yalong, no sul da ilha de Hainan, em águas rasas, onde podem ser facilmente localizados por sensores e sistemas de informação ou de reconhecimento inimigos.
Se a China pudesse controlar o acesso ao Oceano Pacífico por meio de Taiwan e dos arquipélagos circundantes, os submarinos chineses teriam uma saída direta para águas profundas e poderiam ser utilizados de forma mais plausível como plataformas nucleares de contra-ataque.
É por isso que, nos últimos anos, o país também reforçou suas forças navais, equipou áreas marítimas estrategicamente importantes com radares e cadeias de sonares e boias, tentando intimidar países vizinhos com grandes manobras navais.
Para especialistas, implementação desse sistema é complexa e lenta
Embora a China esteja fazendo progressos notáveis em inteligência artificial, especialistas militares ocidentais duvidam que o novo sistema de controle a submarinos via IA represente uma ameaça às estratégias globais de defesa em um futuro próximo.
Em entrevista à DW, o americano Paul Schmitt, especialista em guerra naval estratégica e operacional, confirma que a inteligência artificial torna mais eficaz a caça a submarinos, pois analisa grandes quantidades de dados de diferentes sensores e auxilia os humanos a tomar decisões.
Mas o ambiente subaquático é extremamente complexo, o que faz com que a implementação continue difícil.
O conceito de uma solução totalmente conectada e integrada, controlada por IA, é um objetivo futuro interessante, mas parece um pouco otimista demais no momento.
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O equilíbrio mundial de forças embaixo d’água
A China aparece no topo do ranking com a maior frota militar marítima, com 105 submarinos, seguida pela Coreia do Norte (90), Estados Unidos (74) e Rússia (62).
Mas são os submarinos modernos, movidos a energia nuclear e equipados com mísseis balísticos, que são decisivos para a competição estratégica.
Nesse sentido, os EUA possuem a maior e mais avançada frota, com cerca de 14 submarinos de mísseis balísticos e mais de 50 submarinos de ataque modernos.
A Rússia aparece na sequência com cerca de 16 submarinos estratégicos e vários outros submarinos nucleares de ataque e mísseis de cruzeiro.
A China está expandindo rapidamente sua frota com pelo menos seis submarinos da classe Jin e um da classe Xia, além de vários outros tipos.
O Reino Unido e a França garantem sua segurança estratégica com quatro submarinos de mísseis balísticos (classes Vanguard e Triomphant, respectivamente), além de submarinos de caça nucleares.
A Alemanha aposta em modernos submarinos diesel-elétricos e desempenha um papel de liderança na área convencional em termos técnicos, mas não possui capacidade nuclear.
Outras nações relevantes na área de submarinos que integram a Otan são Itália, Espanha, Noruega, Suécia, Países Baixos, Canadá e Turquia, que apostam em tecnologia convencional comprovada.
Fora da Otan, a Índia, com a classe Arihant, e Israel, com os submarinos Dolphin, possuem capacidades submarinas mais avançadas.

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