Indiciamento do ex-diretor da FBI que investigou Trump revela influência inédita de um presidente no Departamento de Justiça
Reprodução/TV Globo
Um ex-diretor da Polícia Federal Americana que enfureceu Donald Trump por tê-lo investigado há alguns anos se tornou alvo do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, exatamente como Trump queria.
Há anos, James Comey está na mira de Donald Trump. Tudo começou no início do primeiro mandato, quando em março de 2017, o então diretor do FBI anunciou que estava investigando as suspeitas de interferência da Rússia na eleição presidencial de 2016 para favorecer Trump, contra a democrata Hillary Clinton. Cerca de dois meses depois, Trump demitiu Comey, que tinha sido indicado por Barack Obama em 2013. Comey virou crítico assíduo de Trump.
Na sexta-feira (19), o presidente demitiu o procurador-geral do estado da Virgínia, Erik Siebert, por se recusar a avançar o processo contra Comey. Siebert alegou que não tinha conseguido estabelecer uma causa provável para acusar o ex-diretor do FBI de crimes. Um dia depois, o presidente fez um apelo público à chefe do Departamento de Justiça, Pam Bondi:
“Pam, analisei mais de 30 declarações e postagens que diziam: ‘Nada está sendo feito’. E quanto a Comey, Adam Schiff, Leticia? Eles são todos culpados para caramba, mas nada está sendo feito”
“Não podemos adiar mais, isso está acabando com nossa reputação e credibilidade. Eles me acusaram duas vezes e me processaram 5 vezes sem nada. A justiça tem que ser feita, agora!”.
Logo depois, o presidente nomeou como procuradora-geral do estado da Virgínia Lindsey Halligan – assessora pessoal dele na Casa Branca, e ex-advogada. A imprensa americana destacou que ela não tem qualquer experiência como promotora ou supervisionando casos complexos de segurança nacional.
Mas, em três dias, Halligan fez o que o presidente queria. Apresentou diante de um júri na Virgínia as acusações contra Comey de falso testemunho e de obstrução da justiça. A acusação se baseia em um depoimento de Comey ao Senado em 2020. Nele, Comey negou ter sido fonte anônima em reportagens sobre a investigação de interferência russa na eleição. A procuradora-geral afirma que ele mentiu, mas até agora não apresentou provas.
Depois da acusação, Comey jurou inocência:
“Minha família e eu sabemos que enfrentar Donald Trump tem um custo. Mas o medo é a ferramenta de um tirano. Tenho grande confiança no sistema judiciário. Então, vamos ter um julgamento e manter a fé”.
Se condenado, ele pode pegar cinco anos de prisão. Nos Estados Unidos, o Departamento de Justiça também engloba as funções do que seria o Ministério Público no Brasil e tem tradicionalmente uma reputação de agir com independência, de forma apartidária.
Nesta sexta-feira (26), Trump disse que haverá mais acusados e negou perseguição:
“É sobre justiça. Não é vingança. É também sobre o fato de que você não pode deixar isso continuar. Eles são pessoas doentes, de esquerda radical, e não podem se safar. Comey era uma dessas pessoas”, disse o presidente americano.
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