
Inhambú-chintã flagrado pela primeira vez na Mata de Santa Genebra em Campinas (SP)
Thomaz Henrique Barrella
Os versos escritos pelos compositores Athos Campos e Serrinha ficaram para sempre na memória da música sertaneja nas vozes da dupla Tonico e Tinoco. Quem não se lembra do refrão : “É o inhambu-chintã e o chororó”.
O que talvez muita gente não saiba é que a canção trata de duas espécies de aves muito parecidas. Ambas da família Tinamidae, que ocorre do México até a Patagônia. O inhambu-chitã (Crypturellus tataupa) é uma ave de hábitos florestais, mede cerca de 23 cm e fica principalmente no chão da mata se alimentando de sementes e pequenos insetos.
A espécie é bastante discreta e não se expõe com facilidade, o que se deve ao fato de ser presa de alguns moradores da floresta, como cachorros-do-mato (Cerdocyon thous) , jaguatiricas (Leopardus pardalis) e até a onça-parda (Puma concolor). O inhambu-chitã ajuda na dispersão de sementes e no controle da população de insetos na floresta, favorecendo a regeneração da floresta e seu equilíbrio.
A ave serviu de inspiração e deu origem ao nome da dupla Chitãozinho e Xororó
Thomaz Henrique Barrella
Em outubro, pela primeira vez, a ave foi registrada na Mata de Santa Genebra, uma área de 250 hectares de Mata Atlântica preservada em Campinas, a cidade mais populosa do interior paulista. Antes só havia um registro de áudio e uma foto de armadilha fotográfica de 2019.
O registro inédito foi feito pelo biólogo Thomaz Henrique Barrella, que trabalha na Área de Relevante Interesse Ecológico.
“Eu já sabia da presença de um casal de inhambu-chintã na trilha do Jatobá aqui próximo da sede, mas nunca havia conseguido a aproximação deles, especialmente em uma área onde fosse possível a foto. Por volta das 10h30, eu estava na trilha, com minha câmera, e resolvi checar se eles estavam por perto. Para isso utilizei a reprodução de um playback. Imediatamente houve resposta, então fui tentando fazer com que os animais se aproximassem e, para minha surpresa, o casal não só se aproximou como passou pela trilha, em um ponto sem interferência para a foto. Como eles estavam vocalizando e eu conseguia ouvi-los caminhando sobre as folhas da floresta, já fiquei com a câmera a postos. Finalmente, depois de alguns anos de tentativas, fiz o registro da ave”, comemora Thomaz Henrique Barrella.
O biólogo conta que sonhava com esse registro, já que tinha feito inúmeras tentativas sem sucesso.
A espécie ocorre desde o Nordeste brasileiro até a Argentina, onde é chamada perdiz del monte ou perdiz del hogar
Thomaz Henrique Barrella
Thomaz acredita que possa haver mais indivíduos no município, especialmente nas manchas de floresta, especialmente na região da APA Campinas e nas Área de Preservação Permanentes dos rios.
“Ouvir o canto dessa ave aqui na Mata de Santa Genebra não é raro, mas por possuir um hábito bastante discreto e ter preferência por áreas de vegetação mais densa, seu avistamento é bastante difícil. Saber que há um casal vivendo tão próximo da sede e em um ponto acessível, favorece que novos registros possam ocorrer”, completa Thomaz.
O fato do inhambu-chintã ser flagrado na Mata de Santa Genebra indica que o trabalho da Fundação José Pedro de Oliveira, que cuida da área, tem dado resultado, já que se trata de uma ave de hábito florestal, que precisa de um ambiente estável para que possa se manter.
Em relação à música que deixou o inhambu-chintã famoso, o biólogo tem sua opinião.
“Acredito que seu canto marcante, sua beleza e o fato de necessitar um ambiente específico, só encontrado em áreas preservadas, fizeram o autor da música se referir a ele, pois em seus versos ele justamente fala que não troca o sossego “do mato” por uma casa na cidade”, pontua Thomaz Henrique Barrella.
A foto foi publicada nas plataformas de registros de aves como Wikiaves e e-Bird como forma de contribuir para o conhecimento das espécies, já que através desses registros é possível acompanhar a área de ocorrência, períodos de ocorrência, tipo de ambiente e outras informações que incrementam os dados científicos.
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