‘Já fui preso por engano duas vezes’: a luta de famílias e instituições contra o racismo

‘Já fui preso por engano duas vezes’: Profissão Repórter mostra luta contra o racismo no Brasil
“Eu já fui preso por engano duas vezes. Uma vez eu fui pedir ajuda porque eu tinha sido assaltado, o policial achou que eu era assaltante e me levou”.
Matheus Gomes é deputado estadual e integrante do movimento negro em Porto Alegre. Ele também acompanhou o caso de João Alberto Silveira Freitas, morto dentro de uma unidade do Carrefour na capital gaúcha, na véspera do Dia da Consciência Negra. João Alberto foi perseguido por seguranças, agredido no estacionamento e morreu asfixiado após pedir socorro.
O caso foi semelhante à morte de George Floyd, nos Estados Unidos, ocorrida no mesmo ano. A cena, registrada em vídeo, gerou indignação e impulsionou o movimento “Black Lives Matter” — “Vidas Negras Importam”.
“Desde pequenos, somos educados por nossas mães e avós a tomar cuidado ao entrar em supermercados. Evitar colocar a mão no bolso, mexer na mochila…”, disse Matheus.
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Racismo na infância
Profissão Repórter acompanha trabalho nos Centro de Referência de Promoção da Igualdade Racial
Em São Paulo, os Centros de Referência de Promoção da Igualdade Racial (CRPIR) oferecem apoio jurídico, psicológico e social para vítimas de racismo e injúria racial. A zona leste da capital concentra o maior número de denúncias, segundo dados da prefeitura.
“Foi muita luta para termos um equipamento voltado para a questão racial em São Paulo. Ele atua na conscientização, no combate ao racismo, na orientação jurídica, no acompanhamento psicológico e na assistência social”, explicou uma das coordenadoras do centro.
A equipe de reportagem acompanhou o primeiro dia de atendimento psicológico de um menino de 11 anos, vítima de racismo na escola. A mãe, Suellen Rodrigues, relatou que o filho começou a apresentar mudanças de comportamento após os episódios.
“Ele ficou agressivo, ora se isolava. Apanhou bastante. Conversei com as mães, com a diretora, nada resolveu. Tive que trocar ele de escola. Voltava roxo todo dia. E não contava. Estava sofrendo calado, como muitas crianças”, disse.
Suellen também compartilhou sua própria experiência.
“Sofri racismo na escola e isso me afetou muito. Hoje consigo enfrentar um pouco por ele, mas é difícil. Nosso psicológico não fica o mesmo. Tenho medo que ele passe pelo que eu passei.”
O trabalho com o menino inclui ações voltadas à autoestima e ao letramento racial.
“A partir de hoje, começamos a mostrar que ele pode estar em qualquer lugar. Que a cor da pele e o cabelo não o impedem de ocupar espaços”, afirmou uma das psicólogas.
Racismo no trabalho
Isabela, outra atendida pelo centro, começou a sofrer preconceito racial no trabalho há mais de um ano. Há três meses, recebe suporte jurídico e psicológico na unidade da Sé.
“Vim aqui porque estava enfrentando questões no trabalho. Existem racismos silenciosos. Recebi atendimento psicológico, jurídico e social. Fizemos a denúncia, a empresa deu importância ao caso e teve um desfecho positivo. Estava entrando em depressão. O centro foi primordial para mim”, contou.
Abandono escolar
Avó conta que neto deixou de ir à escola após ser vítima de racismo
O neto de Maria da Conceição está em acompanhamento psicológico há dois anos. Ele abandonou a escola após sofrer injúria racial de um funcionário da instituição.
“Ele ficou agressivo. Não para em escola nenhuma. Por causa do racismo, acha que todas vão agir da mesma forma”, disse a avó.
A família recorreu à Justiça, mas o caso foi arquivado por falta de provas e testemunhas.
“Infelizmente, o Judiciário entende que só a palavra da vítima não basta. É preciso ter imagens, testemunhas. Na prática, a impunidade é comum”, lamentou o advogado Raphael Silva de Carvalho.
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