
Polícia investiga cabeleireiro acusado de ofender negros, gordos, gay, feministas em áudio
A Justiça de São Paulo condenou por crimes de racimo um dono de salão de beleza que ofendeu negros, gordos, gays, feministas e petistas e riu disso em áudios que circularam em 2023 nas redes sociais.
Além da condenação por injúria racial e discriminação por raça e orientação sexual, ele também foi obrigado a pagar mais de R$ 30 mil em indenizações por danos morais. A decisão é de quarta-feira (29). Apesar de ter recebido uma pena de 2 anos e 4 meses de prisão em regime aberto, ela foi substituída por prestação de serviços à comunidade.
“Eu não contrato preto”, havia dito Diego Beserra Ernesto, dono de um salão em Perdizes, na Zona Oeste da cidade. Ele, que é um homem branco, ainda falou que não contratava “gorda” nem “viado” (ouça áudio acima).
As falas preconceituosas foram gravadas por Diego em 12 de janeiro daquele ano, quando foram enviadas por mensagem de celular a um cabeleireiro negro, Jeferson Dornelas. Ele pagava aluguel a Diego para usar uma cadeira do espaço e assim poder trabalhar no local, mas atendendo suas próprias clientes.
Ana, uma das vítimas (à esquerda); o local onde funciona o salão (no centro); e Diego, o investigado (à direita)
Divulgação e Reprodução/Arquivo pessoal e Google Maps
Os dois conversavam sobre uma profissional, Ana Carolina Alves de Souza, que Jeferson conheceu no dia anterior e que queria contratar como auxiliar. Mas ela desistiu da vaga sem dar explicações.
Assim que mandou um recado para Diego lamentando a desistência de Ana, Jeferson contou que recebeu o seguinte áudio do dono do lugar:
“Eu não contrato gordo. Eu não contrato petista, eu não contrato preto. Cê tá entendendo? Mas, no caso do preto, por quê? Porque alguns se fazem de vítimas da sociedade.”
“No caso dali, a mulher, tem duas coisas, mano: gorda e preta. Ela não cuida nem do próprio corpo, entendeu? Como é que vai ter responsabilidade na vida? Não tem”, comenta o empresário, na gravação.
Após isso, segundo Jeferson, Diego continuou as ofensas contra negros, ao enviar mais áudios, citando ex-funcionários dele que são negros e gays.
Diego e Ana
Reprodução e Divulgação/Arquivo pessoal
Nas conversas pelo WhatsApp, Diego gravou mais declarações preconceituosas contra Ana.
“Inclusive… [tem] cabelo curto, é feminista”, falou o proprietário do espaço. “Não estou generalizando, falando que todas são. Mas tem uma grande probabilidade de ser feminista. Feminista é um saco. Você não pode falar nada”, declara.
Homossexuais também foram alvo de Diego, que riu ao enfatizar sua aversão a eles em mais um áudio: “Esqueci de falar, mano. Não contrato mais viado [risada]. Principalmente viado. Viado… mas nem fu*****. Não contrato mais. Só se a pessoa estiver mentindo”.
Jeferson desistiu de alugar a cadeira no salão após as declarações preconceituosas de Diego. O g1 não conseguiu falar com o cabeleireiro nesta sexta-feira (31). Há dois anos, disse à equipe de reportagem que o empresário tinha que “pagar criminalmente pelo que ele fez”.
À Justiça, Diego confirmou a veracidade dos áudios, mas negou ter sido preconceituoso. Segundo a Polícia Civil e o Ministério Público (MP), que apuraram o caso, ficou comprovado que todos os funcionários do empresário são obrigatoriamente brancos, magros e heterossexuais.
A juíza Manoela Assef da Silva, da 15ª Vara Criminal, condenou ainda Diego a pagar mais de R$ 15 mil de indenização por danos morais a Ana e outros R$ 15 mil a algum fundo de igualdade racial que será determinado pela Justiça. A acusação foi feita pela promotora Mariana Camila de Melo.
O g1 não conseguiu localizar Ana para comentar o assunto. Em 2023, ela disse que se sentiu “constrangida”, “violada” e “excluída” quando ouviu o que Diego disse a respeito dela.
A equipe de reportagem não encontrou Diego para tratar do caso. Há dois anos, ele falou para o g1 que estava “sendo massacrado” pelo que falou.
Procurado, o advogado do empresário, José Miguel da Silva, afirmou nesta sexta que irá “recorrer” da condenação às instâncias superiores da Justiça.
Ana
Divulgação/Arquivo pessoal