Justiça do Rio de Janeiro aprova pedido de recuperação judicial da Ambipar


Ambipar: entenda como a empresa passou de queridinha do ESG para à beira da falência
A Justiça do Rio de Janeiro aprovou nesta quarta-feira (30) o pedido de recuperação judicial da Ambipar.
A companhia havia protocolado o pedido na 3ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro neste mês, em meio a uma crise de caixa e risco de pagamento acelerado de dívidas de bilhões de reais. O pedido inclui outras empresas do grupo, como a Environmental ESG Participações.
Nos Estados Unidos, a Ambipar Emergency Response, que faz parte do grupo, entrou com um pedido de falência dentro das regras do Capítulo 11, que é o equivalente americano à recuperação judicial.
Segundo a empresa, as medidas foram tomadas depois que surgiram suspeitas de irregularidades em operações financeiras (chamadas de swap) feitas pela antiga diretoria financeira. Essas suspeitas vieram à tona após a saída repentina do antigo diretor financeiro, João de Arruda.
A Ambipar afirmou que o episódio abalou a confiança do mercado e fez alguns credores cobrarem o pagamento antecipado de dívidas.
A situação se agravou no fim de setembro, quando as ações da Ambipar despencaram depois da troca de diretor financeiro. O cargo passou a ser ocupado por Ricardo Garcia, que também é o responsável pela área de relações com investidores.
No pedido apresentado à Justiça, os advogados da empresa informaram que já há uma investigação criminal em andamento para apurar a conduta do ex-diretor e de seus aliados.
O que está acontecendo com a Ambipar?
A crise financeira da Ambipar se intensificou no segundo semestre de 2025, após uma série de eventos que abalaram a confiança do mercado e comprometeram sua saúde financeira.
O problema teve início com uma operação financeira complexa realizada pela antiga equipe de finanças, que gerou grandes perdas e elevou os riscos para a companhia.
No final de setembro, a Ambipar conseguiu da Justiça do Rio de Janeiro uma medida cautelar que, entre outras proteções, suspendeu cláusulas contratuais que poderiam acelerar o vencimento de dívidas do grupo e exigir o cumprimento imediato de obrigações relevantes.
Na prática, as medidas evitaram que credores cobrassem todos os pagamentos de uma vez enquanto a empresa tentava se reorganizar financeiramente.
O pedido de proteção por parte da Ambipar foi motivado por uma operação de crédito da companhia com o Deutsche Bank, que exigiu garantias adicionais e consumiu rapidamente um valor elevado do caixa da empresa.
No pedido, mencionado no despacho que concedeu a tutela cautelar, a companhia citou riscos de cláusulas de vencimento cruzado (cross-default) que poderiam gerar um rombo de R$10 bilhões e levar à insolvência imediata do grupo.
🔎Cláusulas de vencimento cruzado são regras estabelecidas em contratos de dívida que fazem uma obrigação vencer antecipadamente se outra dívida do mesmo devedor não for paga ou entrar em atraso.
Desde que obteve a primeira medida cautelar — confirmada após recurso do Deutsche Bank —, as ações da Ambipar acumularam, até a véspera, um tombo de 93%, em meio a especulações sobre o risco de uma eventual recuperação judicial da companhia. Em um ano, os papéis já caíram 95,67%.
Mais tarde, a saída repentina do diretor financeiro da companhia, João Arruda, levantou suspeitas de irregularidades e piorou a crise de gestão, que começou a aparecer nos resultados da empresa.
No segundo trimestre de 2025, a Ambipar voltou a registrar prejuízo, repetindo o desempenho negativo do primeiro trimestre. Segundo o balanço financeiro, o prejuízo foi de R$ 134,1 milhões, revertendo o lucro de R$ 45,5 milhões obtido no mesmo período do ano anterior.
Nas últimas semanas, a Ambipar enfrentou uma série de reveses. Entre eles, a B3 anunciou a retirada das ações da empresa de nove índices da bolsa, e a companhia perdeu o selo de ações verdes, devido a preocupações com sua governança e situação financeira.
Ao mesmo tempo, investidores que aplicaram em Certificados de Operações Estruturadas (COEs) ligados à companhia viram seu dinheiro praticamente desaparecer.
Esses COEs, distribuídos por corretoras como XP e BTG Pactual, prometiam retornos elevados e aparente proteção do capital. Na prática, porém, expuseram os investidores a riscos pouco conhecidos.
A história da Ambipar
Fundado em 1995 pelo empresário Tércio Borlenghi Neto, o Grupo Ambipar surgiu como uma empresa brasileira voltada para soluções ambientais. Ao longo de quase três décadas, transformou-se em uma multinacional presente em 41 países e cinco continentes, com mais de 23 mil funcionários.
Em 2019, a empresa passou por um processo de mudança e de reestruturação societária, o que consolidou suas operações em duas áreas principais: Ambipar Environmental, especializada na gestão e valorização de resíduos, e a Ambipar Response, com o atendimento emergencial de acidentes químicos e ambientais.
Na prática, a companhia, trata e reaproveita o lixo, separando, reciclando e transformando resíduos em novos materiais ou energia sempre que possível, seguindo o conceito de economia circular.
Em julho de 2020, A Ambipar estreou na Bolsa de valores brasileira, a B3, tornando-se a primeira empresa de gestão ambiental a ser listada no país.
A oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) registrou forte demanda, com pedidos que superaram em 10 vezes a quantidade de papéis disponíveis. Um ano depois, as ações chegaram a valorizar 50%, consolidando a companhia como uma das favoritas dos investidores.
A entrada da Ambipar na B3 coincidiu com um período em que o compromisso das empresas com questões ambientais ganhava destaque.
Na época, a pauta ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) também estava em alta no Brasil e no mundo, impulsionada pela pandemia de coronavírus — que aumentou a pressão por práticas sustentáveis e responsabilidade corporativa.
Após estrear com sucesso na bolsa brasileira, a Ambipar investiu R$ 1,5 bilhão na compra de 22 empresas em um ano, ampliando um portfólio que já incluía 10 aquisições anteriores.
A expansão acelerada entre 2020 e 2022 levou o grupo a adquirir companhias na América do Norte, Europa e Brasil, como a americana Witt O’Brien’s e a britânica Enviroclear.
No entanto, a estratégia de crescimento agressivo sem foco em lucro ou geração de caixa se mostrou insustentável. Segundo o especialista em reestruturação Max Mustrangi, foram 40 aquisições em menos de cinco anos em um setor de baixa margem.
A valorização do dólar também agravou a situação, aumentando o peso das dívidas externas e levando a empresa a enfrentar prejuízos e pedir recuperação judicial.
O Grupo Ambipar
Divulgação

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