Miguel Paiva tem uma longa trajetória como cartunista, ilustrador, roteirista, escritor e até diretor de teatro, mas é mais conhecido por ser o criador de dois personagens inesquecíveis: a Radical Chic e o Gatão de Meia-idade – isso sem contar a parceria com Luis Fernando Veríssimo nas aventuras do detetive Ed Mort, que renderam cinco livros. Nessa conversa com o blog, ele falou sobre o envelhecimento e desenhou, com exclusividade para o g1, o Gatão sessentão.
O cartunista Miguel Paiva: “hoje vejo um homem ou uma mulher de 60 anos e só penso em quanta vida há pela frente!”
Acervo pessoal
“Acho que aquele clique do envelhecimento nunca acontece completamente, até por uma questão de defesa nossa. Agora é que começo a aceitar o fato de que sou uma pessoa mais velha, mas por pura racionalidade, não porque me sinta assim”, afirma.
Aos 75 anos, diz que, tirando um problema nos joelhos – já colocou prótese em um deles e se prepara para fazer o mesmo no outro – não enfrenta nenhuma limitação física, mas reconhece que é quase uma exceção entre os homens de sua geração:
“Corri e joguei tênis a vida toda, só parei por causa dos joelhos e penso em voltar às quadras quando tiver colocado a segunda prótese. Vou à academia diariamente, porque musculação é fundamental, ainda mais quando a gente envelhece. Também cuido da alimentação, como pouca fritura, pouca gordura, e só bebo no fim de semana. Antigamente, preparava um coquetel todo fim de tarde, mas hoje nem sinto mais essa fissura”, conta.
Paiva faz uma charge diária para a plataforma Brasil 247, onde também assina uma crônica semanal e participa de quatro programas por semana, entre eles um voltado para a questão da longevidade: “O barato da idade”, com a jornalista Regina Zappa. Seu livro mais recente é de 2023: “Diário do inferno”, sobre o governo Bolsonaro.
Sobre seus personagens, afirma que hoje não faria mais sentido “falar pelas mulheres, como fiz na época da Radical chic. Poderia desenhar, mas não fazer o texto, e seria uma mulher mais velha, vivendo a menopausa, uma questão que precisa de mais visibilidade, mais reflexão”.
Ilustração do Gatão de Meia-idade já sessentão, feita por Miguel Paiva para o blog
Acervo pessoal
Quanto ao Gatão, lembra que o humor do personagem estava no fato de ser um homem tentando se passar por alguém mais jovem, mas que sua visão sobre o envelhecimento mudou muito: “hoje vejo um homem ou uma mulher de 60 anos e só penso em quanta vida há pela frente!”.
E que conselhos ele daria para seu personagem quarentão? “Eu não penso muito no futuro, no que vai acontecer. Procuro viver e não tenho arrependimentos. Diria para ele não se programar demais, para ir em frente apreciando a vida. O mais importante é fazer o que te deixa feliz, porque o sucesso vem a reboque. Sou uma pessoa muito prática diante das coisas que acontecem e sempre procuro uma solução, o que me ajudou muito nesses 75 anos. Passei por diversas situações bastante dramáticas em que tive que ser prático. Isso não diminui a intensidade do sofrimento, mas é uma forma de resistir”, analisa.
Casado há 23 anos com a atriz Ângela Vieira, o cartunista afirma que a família é sua principal referência – “sou que nem uma galinha querendo botar todos debaixo das asas” – e avalia que o envelhecimento lhe trouxe uma tolerância maior:
“Quando a gente é jovem, vive debaixo de uma cobrança enorme, querendo provar ao mundo que tem valor. Essa ansiedade não existe mais. Continuo produzindo muito e novos projetos ainda me interessam”.
Plim Plim: Miguel Paiva