Óculos criados por alunos de escola pública do ES detectam sono e podem evitar acidentes
Um trio de estudantes de uma escola pública de Guarapari, no Espírito Santo, desenvolveu um par de óculos capaz de detectar sinais de sonolência em motoristas e evitar acidentes em estradas.
O projeto, que começou quando eles ainda estavam no ensino fundamental, já conquistou prêmios em feiras científicas e chegou a ser finalista da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), considerada a maior do segmento no país.
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A ideia nasceu em 2023, durante um projeto de iniciação científica na Escola Municipal João Lima da Conceição. O colégio fica às margens da BR-101, uma das rodovias mais movimentadas e perigosas do estado.
A coordenadora pedagógica, Naiara dos Santos Nobre, responsável por iniciar o projeto, contou que os alunos Caleb Gomes da Silva Fabris, Henrique Velten da Silva e Natalia Dantas Sá chegaram até a criação dos óculos a partir de uma investigação dos problemas da comunidade.
Estudantes do Espírito Santo criaram óculos antissono para evitar acidentes em rodovias
Arquivo Pessoal
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“Eles chegaram à problemática que foi os acidentes de trânsito e descobriram uma informação, que ficaram um pouco chocados na época, de que o sono era um dos maiores causadores de acidente. Rascunharam, encontraram soluções em caminhões mais modernos, que tinham essas tecnologias. Mas os caminhões das pessoas que eles conheciam eram mais antigos”, explicou a coordenadora.
A partir daí, os estudantes começaram a pesquisar alternativas acessíveis para prevenir o sono ao volante.
“Eles pensaram em como trazer uma solução de forma menos custosa, mais barata, que pudesse atingir caminhoneiros que não têm essas tecnologias. Eles chegaram ao primeiro protótipo deles, que seriam óculos para acordar os motoristas”, completou Naiara.
Como funcionam os óculos
Estudantes do Espírito Santo criaram óculos antissono para evitar acidentes em rodovias
Arquivo Pessoal
Batizado de Óculos Antissono em Rodovias (ASR), o dispositivo utiliza um sensor infravermelho que identifica se o olho do motorista está aberto ou fechado.
Os dados são processados por uma placa, que aciona dois alertas quando o condutor está prestes a adormecer:
um buzzer, que emite um som próximo ao ouvido;
e um mini motor de vibração, instalado na lateral do óculos.
Com esses estímulos, o objetivo é acordar o motorista antes que ele realmente adormeça e perca o controle do veículo.
Até agora, os testes foram realizados em ambiente controlado e, mais recentemente, em baixa velocidade no pátio do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) em Guarapari, parceiro do projeto.
Projeto foi destaque em feiras
Estudantes do Espírito Santo foram destaque em feiras de ciências com projeto de óculos antissono para motoristas
Arquivo Pessoal
A trajetória do grupo começou com a vitória na Feira de Ciências Sul Capixaba (Fecisc), em Piúma. Depois, vieram novas conquistas, como o 2º lugar na Feira de Ciências e Inovação Capixaba (Fecinc), em Vila Velha, que credenciou os alunos para a Mostratec Júnior, no Rio Grande do Sul.
O reconhecimento levou os jovens até a Febrace, considerada a maior feira de ciências e engenharia do Brasil. Lá, eles ficaram entre os quatro melhores projetos da área de engenharia.
Hoje, mesmo em escolas diferentes, os estudantes continuam se reunindo no contraturno para aprimorar o protótipo.
“Eles não estão mais nessa escola, porque só tem até o nono ano. Uma foi para Ifes, inclusive. A gente continua fazendo o projeto. Agora, em parceria com o Ifes de Guarapari, porque chegou um determinado momento que a gente precisava de alguns outros instrumentos, recursos e também potencial técnico. A gente perdeu essa capacidade de continuar evoluindo com eles”, explicou Naiara.
Estudantes do Espírito Santo criaram óculos antissono para evitar acidentes em rodovias
Arquivo Pessoal
Desafios continuam
Ainda segundo a coordenadora, que continua orientando o projeto, o protótipo segue passando por testes e melhorias. A próxima etapa será ajustar o posicionamento dos sensores para aumentar a precisão.
Apesar das dificuldades, os alunos sonham em transformar o protótipo em um produto viável comercialmente. “Eles já se veem como futuros empresários. Nosso papel é apoiar e orientar esse caminho”, finalizou Naiara.
Mais que um projeto de ciências
A coordenadora pedagógica acredita que o projeto, além de ter ensinado sobre conceitos de robótica, física e engenharia, permitiu que os estudantes ampliassem seus horizontes.
“Aqueles meninos que a gente conheceu são outros hoje. Em todos os sentidos. São mais empoderados, sabem do que podem, ampliaram a perspectiva de vida. Na escola, isso não vale um ponto, mas na vida valem habilidades que eles não vão conseguir em outros”, comemorou a coordenadora.
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