Operação contra o Comando Vermelho: corpos encontrados na mata são levados para a Praça da Penha; número oficial de mortos salta para 121


O número oficial de mortos na operação policial de terça-feira (28), no Rio de Janeiro, praticamente dobrou na manhã desta quarta-feira (29). De 64, saltou para 121. Moradores das comunidades da região do Alemão e da Penha resgataram corpos da mata onde houve o principal confronto.
Praça São Lucas, Complexo da Penha, Zona Norte do Rio. No asfalto, o retrato de mais um dia que entra para a história da violência no país. Pessoas incrédulas, em choque diante dos mortos, deixados lado a lado, no meio da rua. A todo momento chegavam mais carros com mais corpos.
“Muito terror, muito medo, é isso que nós temos para falar. Muita mãe chorando e a gente não sabe o que fazer”, diz uma moradora.
Foram moradores da favela que levaram os mortos da mata para uma das principais ruas da comunidade. Em meio à multidão, um trabalho silencioso. Ali mesmo, na rua, pessoas tentavam identificar parentes.
“Não é um dos meus que está ali, mas eu sou mãe. Eu sou mãe e sei muito bem o que cada uma está passando porque eu também já tive perda”, diz uma moradora.
“Eu não sou mãe, sou tia. Mas a gente vê assim a realidade, a gente fala para procurar coisas melhores, mas infelizmente, minha filha, é muito difícil para uma mãe, um pai ver um filho assim”, afirma uma outra moradora.
Operação contra o Comando Vermelho: corpos encontrados na mata são levados para a Praça da Penha
Jornal Nacional/ Reprodução
O que se viu lá chocou não só a nossa sociedade; chamou a atenção da imprensa do mundo todo.
“É muito difícil para nós de compreender isso. Muita violência, muita morte. Eu não lembro de ter vivido uma coisa como essa. É muita dor”, diz o jornalista argentino Martin Gonzales.
“De carro, nós seguimos para a parte alta do Complexo da Penha, a cerca de um quilômetro dali. No caminho, barricadas erguidas pelos traficantes para dificultar a passagem da polícia. Paramos na região da Pedreira, que funciona no complexo. Entramos na área da mata onde aconteceu um dos confrontos mais intensos da operação de ontem. A gente está acompanhando as buscas feitas por moradores que tentam encontrar os corpos de parentes. Não havia bombeiros, não havia polícia. Não houve perícia no local onde os corpos foram encontrados”, relata a repórter Bette Lucchese.
“Um rastro de sangue. Aqui já tem peças de roupas. Aqui alguém deve ter caído, provavelmente. Sangue, casaco, chinelo. Pode ser de outra pessoa, até essas roupas mais para frente. Está bem difícil hoje, bem pesado”, diz uma moradora.
Na mata, balas ainda intactas. A equipe do Jornal Nacional flagrou um homem carregando um fuzil, e outro com uma pistola. Em uma área de difícil acesso, moradores localizaram os corpos de dois homens. Mais um na caçamba de um caminhão que presta serviço para a Pedreira e outro estava no alto do morro. Esses quatro corpos também foram levados para a Praça São Lucas. Um endereço do Complexo da Penha que ficou marcado para sempre.
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