Plataforma digital pioneira analisa impactos de enchentes em áreas vulneráveis no AC


Plataforma ‘Climate Acre’ traz informações sobre enchentes em Rio Branco e em outras cidades do estado
Climate Acre e Marcos Vicentti/Ilustração
Uma ferramenta inédita promete mudar a forma como o Acre enfrenta os efeitos das cheias históricas que marcam o estado. Lançada no último dia 22 de setembro durante a Semana do Clima de Nova York, a plataforma Climate Acre foi desenvolvida para mapear os impactos das enchentes em populações vulneráveis, incluindo povos indígenas, comunidades tradicionais e moradores da capital Rio Branco.
O sistema, resultado de uma parceria entre o governo do Acre e a empresa brasileira Codex, utiliza dados geoespaciais para identificar áreas de risco, projetar cenários futuros e oferecer informações em tempo real para gestores públicos e a sociedade. (Veja demonstração mais abaixo)
📲 Participe do canal do g1 AC no WhatsApp
Plataforma ‘Climate Acre’ é pioneira no monitoramento de enchentes do Rio Acre
Em meio às mudanças climáticas que vêm afetando o estado nos últimos anos, a iniciativa acreana foi a única escolhida do Brasil e, juntamente com o México e com a Indonésia, é uma das três a receber financiamento do Future Fund, da Coalizão Under2, que apoia projetos de adaptação às mudanças climáticas.
A plataforma já começa a operar com informações de sete municípios prioritários, entre eles Rio Branco, Brasiléia e Xapuri, cidades que nos últimos anos registraram enchentes de grandes proporções.
Em Brasiléia, por exemplo, que teve a maior cheia da sua história em 2024, a ferramenta mostra que 314 hectares foram inundados, atingindo 12 bairros e 29 estruturas públicas.
LEIA TAMBÉM:
Veja as maiores enchentes da história de Rio Branco desde 1971
Da cheia histórica à seca ‘antecipada’: baixo nível do Rio Acre acende alerta sobre possível novo evento climático extremo em menos de 1 ano
Da seca extrema à cheia histórica: entenda os fatores climáticos que fazem o Acre viver nova emergência
Em 52 anos de monitoramento, Rio Branco registrou mais de 40 enchentes
Galerias Relacionadas
Situação de Brasiléia com 15,5 metros, média esta atingida em fevereiro de 2024
Reprodução/Sema
Com base em softwares de inteligência geoespacial, o Climate Acre integra dados populacionais, socioeconômicos e hidrológicos.
O sistema cruza informações do Centro Integrado de Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental (Cigma) com órgãos como Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), oferecendo um painel unificado para tomada de decisões.
“O Acre tem enfrentado secas e cheias cada vez mais severas. A plataforma fortalece a capacidade do estado em compreender os impactos sociais e ambientais e planejar respostas mais rápidas”, disse o secretário de Meio Ambiente, Leonardo Carvalho.
Delegação acreana apresenta a plataforma Climate Acre na Semana do Clima em Nova York
Diego Gurgel/Secom
Inovação e rapidez no desenvolvimento
Segundo o diretor de Negócios da Codex, Venicios Santos, o projeto se destacou pelo tempo recorde de execução, já que houve menos de 12 meses entre a concepção e o lançamento.
Além de oferecer simuladores interativos que mostram os efeitos da elevação dos rios amazônicos, a plataforma disponibiliza painéis com indicadores em tempo real.
A proposta é que tanto a população quanto gestores públicos possam acessar informações e planejar rotas de evacuação, ações de assistência social e estratégias de reconstrução.
“Projetos climáticos costumam levar de três a cinco anos entre a concepção, a captação e a execução[…] em um cenário de emergência climática, tempo é um recurso crítico. Ter uma plataforma pronta e funcionando em menos de um ano faz toda a diferença para a proteção de vidas, fortalecimento da resiliência climática e apoio a comunidades”, afirmou.
Venicios Santos, da Codex, em apresentação da plataforma Climate Acre
Arquivo/Codex
43 enchentes em mais de 50 anos
O histórico de enchentes sucessivas do Rio Acre foi um dos motivos pelos quais a plataforma ganhou vida. Um estudo elaborado pela prefeitura da capital em parceria com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia mostrou que desde 1971, quando o manancial começou a ser monitorado, Rio Branco registrou 43 enchentes, sendo seis extraordinárias, ou seja, acima dos 17 metros.
Entre os anos de 1971 e 2025 ocorreram pequenas enchentes em 15 anos; médias em 12 anos, sendo a última em 2025; grandes enchentes em nove anos; e enchentes extraordinárias em seis anos, sendo estas nos anos de 1988, 1997, 2012, 2015, 2023 e 2024.
Em Rio Branco, Rio Acre chegou a 18,40 metros em março de 2015
Caio Fulgêncio/g1/Arquivo
Nos últimos 15 anos, a situação se tornou quase frequente, já que em 12 anos houve enchente. Nesta década, as inundações ocorreram em todos os anos, sendo duas extraordinárias consecutivas: 2023 e 2024.
Enchentes no Acre desde 1971
Enchente em Rio Branco em 2023
Marcos Vicentti/Secom
O documento também ressalta que inundações e enchentes representam vulnerabilidade de alto risco para a capital acreana e calcula que mais de 70% ocorrem nos meses de fevereiro e março.
A pesquisadora do Ipam, Jarlene Gomes, disse que há uma série de ações que precisam de decisão política para serem tomadas com urgência, já que há impactos que vão além da questão ambiental e que devem refletir na forma como todos vão lidar com fenômenos climáticos cada vez mais extremos e devastadores.
“As alterações do clima pedem novas formas de agir e planejar, e consistem em um dos grandes desafios da atualidade. E ao mesmo tempo, a gente precisa pensar nisso como oportunidade. Se a gente bem pensar as ações, trabalhar e executar, elas podem resultar na melhoria de infraestrutura para cidade, serviços básicos, saúde, a recuperação das margens do rio e a própria qualidade de vida da população. Então, tem uma questão central nesse desafio que é o papel dos governantes locais”, explicou a pesquisadora.
Rio Acre se mistura às águas de esgoto no bairro Ayrton Senna, em Rio Branco, em 2025
Eldérico Silva/Rede Amazônica
Ferramenta aberta ao público
Disponível para consulta pública desde o dia 22 de setembro, o Climate Acre vai apoiar não apenas órgãos governamentais, mas também organizações sociais e pesquisadores que estudam os efeitos da crise climática na Amazônia.
Com a capital acreana no centro de frequentes desastres naturais, a expectativa é que a plataforma se torne uma aliada na busca por maior resiliência climática em uma das regiões mais impactadas do país pelas mudanças no regime dos rios.
“Mais do que um sistema de visualização, o Climate Acre oferece uma análise completa dos impactos das inundações nas populações ribeirinhas, com base histórica e metodológica. A plataforma ajuda o governo a antecipar emergências, planejar rotas de evacuação e proteger a vida das pessoas, suas casas e a economia local”, reforçou Venicios.
Rio Acre tem diminuição, mas enchente impacta mais de 30 mil pessoas em Rio Branco em 2025
VÍDEOS: g1

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *