Delegado explica como possível atirador de Ruy Ferraz Fontes foi morto no Paraná
Umberto Alberto Gomes, apontado como possível atirador na execução do ex-delegado Ruy Ferraz Fontes, morreu em confronto com policiais durante uma abordagem no apartamento onde estava escondido, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (PR).
“Quando a porta foi aberta, ele já efetuou os disparos e acabou tendo confronto ali mesmo e acabou vindo a óbito”, disse o delegado e chefe do Grupo Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (Tigre) do Paraná, Thiago Teixeira (assista acima).
Umberto passou a ser considerado suspeito de participar da execução do ex-delegado após a perícia encontrar as impressões digitais dele em uma casa supostamente usada pelos criminosos, em Mongaguá, no litoral paulista. A Justiça decretou sua prisão na última terça-feira (23).
✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Santos no WhatsApp.
Dos suspeitos identificados pela execução do ex-delegado Ruy Ferraz Fontes, em 15 de setembro, agora três seguem foragidos: Felipe Avelino da Silva, Flávio Henrique Ferreira de Souza e Luiz Antonio Rodrigues de Miranda.
Já foram presos Dahesly Oliveira Pires, Luiz Henrique Santos Batista (Fofão), Rafael Marcell Dias Simões (Jaguar) e Willian Silva Marques.
Investigação, confronto e morte de Umberto
Segundo o delegado Thiago Guerra, a Polícia Civil paranaense iniciou as investigações com apoio de inteligência e monitoramento após receber a informação de que Umberto havia fugido de São Paulo para o Paraná em 25 de setembro.
A localização exata do suspeito só foi descoberta na madrugada de terça-feira (30), quando foi montada uma operação conjunta com a polícia paulista e apoio aéreo para capturá-lo.
Umberto Alberto Gomes foi morto durante operação conjunta entre Polícia Civil de São Paulo e do Paraná
Reprodução e Ricardo Almeida/SESP-PR
“Durante a tentativa de cumprimento do mandado de prisão, ele acabou reagindo contra equipe e foi a óbito no local”, explicou Guerra.
Segundo ele, celulares e uma arma calibre 9mm, de uso restrito, foram apreendidos no apartamento onde Umberto estava sozinho, em um condomínio em São José dos Pinhais.
Ainda de acordo com Guerra, os vizinhos ficaram assustados com o tiroteio, mas foram tranquilizados pelas equipes policiais, que esclareceram do que se tratava. Para ele, o treinamento dos agentes para esse tipo de situação foi fundamental para o resultado da operação, que não deixou policiais feridos.
Delegado e chefe do Grupo Tigre do Paraná, Thiago Teixeira, falou sobre operação que terminou com a morte de Umberto Alberto.
Divulgação/Polícia Civil PR
O secretário da Segurança Pública do Paraná, coronel Hudson Leôncio Teixeira, ressaltou a importância da ação conjunta com as equipes de São Paulo.
“Atuamos de forma estratégica, com inteligência e precisão, para impedir que criminosos usem nosso Estado como refúgio. A mensagem é clara: quem desafia a lei não encontrará abrigo no Paraná”, disse, em nota publicada pela Polícia Civil do Paraná.
Possível atirador
Umberto Alberto Gomes (à esq.) é apontado como um dos possíveis atiradores que mataram o ex-delegado Ruy Ferraz Fontes
Reprodução/TV Globo e Prefeitura de Praia Grande
O secretário de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), Guilherme Derrite, publicou sobre a morte de Umberto nas redes sociais e lhe identificou como possível atirador.
“Um criminoso com passagens por roubo e organização criminosa foi identificado como possível atirador do assassinato do Dr. Ruy Ferraz Fontes. Ele fugiu para o Paraná, mas equipes da Polícia Civil o localizaram. Ele resistiu à prisão. Graças a Deus, nossos policiais estão bem”, escreveu Derrite.
O secretário da SSP-SP agradeceu o apoio da Polícia Civil do Paraná na operação e parabenizou “a coragem” de todos os policiais civis envolvidos. “Nós não vamos parar enquanto nós não tivermos a certeza da real motivação do triste caso do assassinato do Dr. Ruy”, disse.
Suspeito morto no PR era o possível atirador em execução de ex-delegado de SP, diz Derrite
Ainda no vídeo, o atual delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Artur José Dian, informou que o suspeito havia fugido para o Paraná. Por isso, equipes realizaram uma força-tarefa no estado.
“Policiais da força-tarefa, do Deic, DECAP e também do Deinter 6 se dirigiram para o Paraná ainda no sábado (27), as diligências perduraram até hoje e no momento da prisão, esse indivíduo preferiu entrar em confronto com os policiais de São Paulo, com apoio dos policiais do Paraná e foi neutralizado”, disse Dian.
Mandado de busca e apreensão
Um boletim de ocorrência, obtido pelo g1, indica que um mandado de busca e apreensão em endereços vinculados a Umberto foi cumprido na manhã de terça-feira (23), na capital paulista.
Na ocasião, os policiais apreenderam cartões bancários, chip e caixas de celulares, um aparelho de monitoramento e gravação DVR, além de documentos como contratos, notas promissórias e cheques.
Segundo o registro policial, o endereço descrito no mandado era um apartamento relacionado ao homem no bairro Jardim Novo Jau. As equipes, porém, não encontraram nada de ilícito no imóvel e o proprietário também informou não conhecer Umberto.
“Não fala nada, a polícia está aqui”
Outros moradores alertaram os policiais que Umberto vivia em outro apartamento no mesmo condomínio. As equipes foram até o local, onde encontraram a filha dele, de 14 anos.
A menina disse que o pai esteve na casa pela última vez no domingo (21), mas não sabia do paradeiro dele. Os vizinhos acrescentaram que Umberto também tinha vínculo em outro endereço, no Grajaú, e um grupo de policiais foi ao local.
Momentos depois, o irmão de Umberto chegou e foi informado sobre o mandado de prisão. Em seguida, ele recebeu uma ligação do parente, mas foi interrompido pela menina, que gritou: “Não fala nada, a polícia está aqui”.
A ligação foi encerrada. O irmão de Umberto foi encaminhado para a delegacia a fim de prestar declarações sobre as investigações e acompanhar a apreensão de alguns itens. Conforme relatado no boletim de ocorrência, os agentes deslocados para a segunda casa ligada a Umberto descobriram que na primeira havia compartimentos secretos onde ele poderia guardar armas.
Sendo assim, a equipe voltou ao local, mas foi informada que a filha de Umberto havia fugido. Apesar disso, os policiais entraram no imóvel e encontraram o compartimento secreto em um armário, onde foram localizados apenas documentos.
Segundo o boletim de ocorrência, o cumprimento de mandado de busca e apreensão ocorreu em um endereço diferente de forma legítima, levando em consideração as circunstâncias para garantir a efetividade da decisão judicial.
Casa usada por grupo que executou ex-delegado tinha piscina e foi alugada por R$ 2 mil
Ficha criminal
O g1 apurou que Umberto tem ficha criminal desde dezembro de 2008, quando tinha 22 anos e foi indiciado por tentativa de roubo, associação criminosa e corrupção de menores em São Paulo. Ele foi preso na ocasião e condenado no ano seguinte.
Umberto ficou detido até janeiro de 2010, quando teve a pena alterada para prisão domiciliar. No entanto, em junho de 2014, foi novamente preso por roubo, também na capital paulista.
O homem ficou preso por um ano e três meses e, em setembro de 2015, obteve o benefício da liberdade condicional.
Umberto Alberto Gomes foi identificado por meio de impressões digitais encontradas em uma casa em Mongaguá
g1 Santos e Reprodução/TV Globo
Casa em Praia Grande
Uma casa em Praia Grande foi o primeiro imóvel a ser investigado por ter ligação com a quadrilha. A polícia chegou até o local após o depoimento de Dahesly — a única mulher suspeita de participação no crime até a última atualização desta reportagem.
De acordo com o Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Dahesly saiu de Diadema, no ABC Paulista, para buscar um dos fuzis usados no assassinato de Ruy dentro da residência. A ordem teria sido dada por Luiz Antonio, mas os fuzis não foram encontrados.
A casa está localizada na Rua Campos de Jordão, no bairro Jardim Imperador, e fica a aproximadamente dez minutos do local do crime. A fachada da residência foi pichada com a frase ‘Justiça tarda + não falha’.
Vídeo e fotos obtidos pelo g1 mostram o momento em que um homem picha o imóvel. Ele marcou o portão da casa com diversos símbolos e palavras como ‘D+S’, ‘É Noix’ e ’25’ (veja abaixo).
Casa usada como base de grupo que matou ex-delegado é pichada no litoral de SP
Veja como é a casa de Praia Grande por dentro
As fotos foram registradas no dia 18 de setembro durante a perícia no imóvel.
Nas imagens, é possível ver diferentes cômodos do imóvel, como um quarto, sala, cozinha e banheiro. Em uma das fotos, duas garrafas de bebida alcoólica aparecem sobre uma mesa. Também é possível ver sujeira em paredes, móveis e eletrodomésticos (veja abaixo).
Imagens mostram casa usada como base para grupo que matou ex-delegado
Quem são os suspeitos
Na parte de cima, os foragidos Luis Antonio Rodrigues de Miranda, Felipe Avelino da Silva e Flávio Henrique Ferreira de Souza. Na parte de baixo, os presos Rafael Marcell Dias Simões, Dahesly Oliveira Pires e Luiz Henrique Santos Batista
Polícia Civil/Divulgação
Felipe Avelino da Silva (foragido), conhecido no Primeiro Comando da Capital (PCC) como Mascherano, de 33 anos, teve o DNA encontrado em um dos carros usados no crime.
Luiz Antonio Rodrigues de Miranda (foragido), de 43 anos, é procurado por suspeita de ter ordenado que uma mulher fosse buscar um dos fuzis usados no crime.
Flávio Henrique Ferreira de Souza (foragido), de 24 anos, também teve o DNA encontrado em um dos carros.
Willian Silva Marques (preso), de 36 anos, é proprietário da casa apontada como base dos criminosos em Praia Grande.
Dahesly Oliveira Pires (presa), de 25 anos, foi detida na quinta-feira (18) por suspeita de ser a mulher que foi buscar o fuzil usado no crime na Baixada Santista.
Luiz Henrique Santos Batista (preso), conhecido como Fofão, de 38 anos, foi preso na sexta-feira (19) em São Vicente (SP), por ser suspeito de participar da logística da execução de Ruy Ferraz Fontes.
Rafael Marcell Dias Simões (preso), conhecido como Jaguar, de 42 anos, foi preso na madrugada de sábado (20) após se entregar no DP Sede de São Vicente, por ser suspeito de participar do assassinato.
Umberto Alberto Gomes (foragido), 39 anos, teve o DNA encontrado na casa que teria sido usada pelos criminosos em Mongaguá.
Crime
Cronologia da execução: ação contra ex-delegado durou menos de 40 segundos
O assassinato de Ruy Ferraz Fontes ocorreu momentos após ele cumprir expediente na Prefeitura de Praia Grande como secretário de Administração. Ele estava aposentado da Polícia Civil.
Câmeras flagraram o momento em que três criminosos portando fuzis desembarcam de uma caminhonete, que estava logo atrás do carro de Ruy Ferraz, e atiram contra o ex-delegado (veja abaixo a cronologia do crime).
Infográfico: criminosos fazem tocaia antes de iniciar ataque e perseguição ao delegado
Arte/g1
Quem era Ruy Ferraz Fontes
Ruy Fontes foi delegado-geral de São Paulo entre 2019 e 2022 e atuou por mais de 40 anos na Polícia Civil. Teve papel central no combate ao crime organizado e foi pioneiro nas investigações sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Formado em Direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo, com pós-graduação em Direito Civil, Fontes comandou divisões como Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Departamento Estadual de Investigações contra Narcóticos (Denarc), além de dirigir o Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap).
Foi justamente no Deic, no início dos anos 2000, como chefe da 5ª Delegacia de Roubo a Bancos, que ele iniciou investigações sobre o PCC, sendo responsável por prender lideranças da facção e mapear sua estrutura criminosa.
Sua atuação foi decisiva durante os ataques de maio de 2006, quando o PCC promoveu uma série de ações violentas contra forças de segurança em São Paulo.
Entre 2019 e 2022, comandou a Delegacia Geral de Polícia do Estado de São Paulo. Nesse período, liderou a transferência de chefes do PCC de presídios paulistas para unidades federais em outros estados, medida considerada estratégica para enfraquecer o poder da facção dentro das cadeias.
Ruy Fontes participou de cursos no Brasil, na França e no Canadá, e também foi professor de Criminologia e Direito Processual Penal.
Ele estava aposentado da Polícia Civil. Em janeiro de 2023, assumiu a Secretaria de Administração de Praia Grande, cargo que ocupava até agora, quando foi assassinado.
VÍDEOS: g1 em 1 minuto Santos