Relatório aponta abandono, criminalidade e favelização nas estações da Supervia no Rio


O levantamento feito pela equipe do vereador Pedro Duarte (Novo) encontrou bocas de fumo, usuários de drogas e insegurança em estações e outros trechos da Supervia. O estudo, feito entre março e maio desse ano, contou com a vistoria de 38 das 104 estações da SuperVia no Rio de Janeiro. A favelização crescente nos arredores dos trilhos dos trens do Rio de Janeiro
Divulgação
Um levantamento feito pela equipe do vereador Pedro Duarte (Novo) apontou o estado de abandono e insegurança em algumas estações de trem do Rio de Janeiro. Batizado de “Caos nos Trilhos: um retrato dos caminhos esquecidos”, o estudo mostrou a favelização crescente nos arredores dos trilhos da SuperVia.
O relatório também destacou que as estações Jacarezinho; Parada de Lucas; Senador Camará; e Mocidade/Padre Miguel contam com a presença de tráfico de drogas, evasão tarifária e ausência de policiamento.
Muros abertos e falta de fiscalização: vistoria encontra 16 estações da SuperVia com falhas no controle de acesso
O levantamento, feito entre março e maio desse ano, contou com a vistoria de 38 das 104 estações da SuperVia no Rio de Janeiro. O documento sinalizou falhas graves de fiscalização, infraestrutura precária e até conivência de funcionários com acessos irregulares.
Presidente da Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara Municipal do Rio (CAU), Pedro Duarte espera levar seu relatório ao Ministério Público Estadual, à Agetransp e à Secretaria Estadual de Transportes para cobrar providências.
“É enorme o impacto na vida dos cariocas e de moradores de outras cidades que se locomovem todos os dias para o Rio, e, diante da inércia do Poder Público estadual, a comissão continuará fiscalizando e pautando a opinião pública”, disse Pedro.
Na região do Jacarezinho, na Zona Norte, a ocupação irregular toma conta de parte do terreno da Supervia.
Divulgação
Ocupações irregulares
A favelização crescente nos arredores dos trilhos dos trens é um problema central que transforma faixas exclusivas para a circulação segura de composições em espaços de moradia precária e informal.
Esse fenômeno revela uma urbanização desordenada, muitas vezes “invisível” para o poder público, com barracos, casas improvisadas e estruturas irregulares coladas à linha férrea.
Segundo o estudo apresentado, a situação afeta diretamente a operação dos trens, resultando na redução da velocidade dos veículos, na geração de atrasos sistemáticos e no aumento do risco de acidentes.
Em Del Castilho, o trilho passa muito perto das construções irregulares.
Divulgação
Além dos impactos operacionais, a favelização dos trilhos denuncia uma crise habitacional cravada no coração da malha de transporte do Rio.
Favelização dos trilhos provoca os seguintes problemas:
atrasos e problemas na operação;
redução da velocidade dos trens;
risco de acidentes;
lixo acumulado;
presença constante de usuários de drogas;
e perda da função da via férrea como espaço seguro de transporte.
Em trechos críticos, como entre Jacarezinho e Del Castilho, no Ramal Belford Roxo, a realidade é alarmante. Ali, os trilhos são ladeados por uma ocupação contínua de barracos de madeira, acompanhada de lixo acumulado e da presença constante de usuários de drogas.
Nesse segmento, os trens são forçados a reduzir a velocidade, o que gera os atrasos constantes.
A favelização crescente nos arredores dos trilhos dos trens do Rio de Janeiro.
Divulgação
A via férrea, que deveria ser um corredor de transporte seguro, perde sua função e se transforma em um corredor improvisado de convivência, marcado pela degradação urbana e insegurança.
Segundo o levantamento, outro ponto problemático é a Estação Campo Grande, no Ramal Santa Cruz. Embora a estação apresente um nível de sinalização e organização superior a outras do ramal, de acordo com o estudo, ocupações irregulares se expandem sobre os trilhos em áreas menos visíveis ao público, atrás da estrutura principal.
Esse contraste evidencia o abandono da região por políticas habitacionais e urbanas, em dissonância com a operação mais organizada da estação, mostrou o relatório.
Veja o que foi encontrado em estações da Supervia
Jacarezinho:
Na estação Jacarezinho, a equipe encontrou centenas de barracos improvisados ao longo dos trilhos, caracterizando um processo intenso de favelização.
A venda e o consumo de drogas ocorrem de forma explícita, enquanto pessoas circulam livremente pelos trilhos, ignorando qualquer controle tarifário.
Segundo o relatório, apesar da presença de alguns agentes, a vulnerabilidade social da área é evidente.
De dentro do trem é possível ver venda e consumo de drogas ao lado dos trilhos.
Divulgação
Parada de Lucas:
De acordo com o trabalho do vereador, a estação Parada de Lucas apresenta passagens clandestinas abertas no muro, facilitando o acesso irregular.
O comércio informal se mistura a um possível ponto de venda de drogas, e a sensação de insegurança levou a equipe a interromper os registros no local.
Os técnicos concluíram que não há policiamento visível e a infraestrutura está em estado crítico.
Mocidade/Padre Miguel:
Na estação Mocidade/Padre Miguel, o relatório apontou a presença de uma boca de fumo funcionando ao lado da linha do trem.
Segundo o relatório, a maioria dos passageiros acessa a estação por passagens irregulares, enquanto usuários de drogas ocupam diversos pontos do local.
A equipe de fiscalização chegou a ser abordada com uma proposta de compra de produto furtado. A estação está localizada ao lado da Vila Vintém, área conhecida por estar sob controle do tráfico de drogas.
Na estação de Campo Grande também foram vistos ocupações irregulares.
Divulgação
Senador Camará:
Em Senador Camará, a situação é de abandono absoluto, segundo o relatório.
Uma boca de fumo foi flagrada em uma das extremidades da plataforma, enquanto o comércio informal se instalou de forma fixa dentro da estação.
Não há cobertura nem estrutura mínima para os passageiros e o cenário é marcado por lixo, degradação e evasão tarifária generalizada, apontou o relatório.
Falhas no controle de acesso
O relatório também identificou 16 estações da SuperVia com falhas no controle de acesso, que permitem que passageiros entrem sem pagar passagens nos trens do Rio de Janeiro.
Segundo o relatório, que considerou dados divulgados pela Supervia, 54 mil passageiros utilizam os trens diariamente sem pagar passagem, gerando um prejuízo mensal superior a R$ 8,4 milhões. Em contato com o g1, a Supervia contestou esses números e informou que “atualmente, 18 mil pessoas por dia, em média, viajam sem pagar a passagem”.
Homem pula a grade da Supervia para dar calote na frente de policial militar
“É impossível manter controle e fiscalização em estações onde o Poder Público simplesmente não está”., comentou Pedro Duarte.
A prática, além de comprometer financeiramente a operação da Supervia, representa riscos à integridade física dos usuários, com registros de acidentes graves e mortes.
“O impacto para o usuário é direto. São trens inseguros, estações precárias, deslocamentos cada vez mais difíceis. A concessão ferroviária foi tratada como um tema isolado, quando, na verdade, depende de um conjunto de políticas públicas — segurança, mobilidade urbana, habitação, ordenamento do território”, completou.
A estação Mercadão de Madureira, na Zona Norte do Rio, foi apontada como o caso mais emblemático, onde a evasão é institucionalizada e tolerada por seguranças. Em outras estações, como Jacarezinho, Parada de Lucas e Senador Camará, a situação é agravada pela atuação do tráfico e pela completa ausência de controle.
Homem pula muro de estação de Piedade da Supervia diante de policial militar
Marcelo Alves/ TV Globo
Como e onde ocorre a evasão tarifária
Além de mapear os pontos críticos, a equipe também documentou como essas evasões ocorrem e em que condições. Veja abaixo os detalhes por ramal:
Ramal Saracuruna:
Manguinhos (Rio) – Acesso informal ao fim da plataforma. Prática naturalizada.
Parada de Lucas (Rio) – Muro lateral aberto ao lado de ponto de drogas. Total ausência de fiscalização.
Duque de Caxias (Duque de Caxias) – Brechas nos muros e acesso direto pelos trilhos.
Ramal Santa Cruz
Mocidade / Padre Miguel (Rio) – Passagem clandestina é principal via de acesso. Presença do tráfico.
Senador Camará (Rio) – Entrada aberta e boca de fumo ativa na plataforma.
Paciência (Rio) – Muros baixos e ausência de agentes, mesmo com grande fluxo de usuários.
Ramal Belford Roxo:
Jacarezinho (Rio) – Favelização, domínio do tráfico e ausência total de controle.
Del Castilho (Rio) – Acesso lateral aberto próximo a viaduto. Fluxo constante de evasores.
Tomás Coelho (Rio) – Muros baixos e segurança insuficiente.
Mercadão de Madureira (Rio) – Evasão institucionalizada. Entrada alternativa é considerada “principal”.
Costa Barros (Rio) – Pulos de muros e grades são frequentes.
Pavuna (Rio) – Muro baixo ao fim da plataforma é usado como entrada clandestina.
Relatório aponta que estação Mercadão de Madureira conta com a evasão institucionalizada, com entrada alternativa considerada como “principal”.
Divulgação
Ramal Japeri:
Olinda (Nilópolis) – Evasão por muros e grades, com auxílio de árvores. Agentes não reagiram.
Presidente Juscelino (Mesquita) – Muros baixos facilitam pulos. Agentes relatam dificuldade de contenção.
Queimados (Queimados) – Evasão constante, mesmo com presença policial.
Japeri (Japeri) – Estação terminal sem barreiras laterais. Trilhos funcionam como via pública.
A vistoria foi feita em 38 estações da SuperVia, documentando com fotos e vídeos os acessos irregulares. As visitas ocorreram em diferentes horários e dias da semana, com o objetivo de observar padrões de evasão e a atuação dos agentes de segurança.
Em muitos casos, segundo o levantamento, os próprios funcionários relataram a dificuldade de conter a prática irregular, diante da precariedade estrutural e da violência nos arredores.
De acordo com o relatório, nem todas as estações apresentam o problema da evasão tarifária. O Ramal Deodoro foi o único onde a equipe do vereador não flagrou evasão tarifária. Estações como a Praça da Bandeira não tiveram indícios de evasão, com seguranças atuando. Da mesma forma, na Estação Quintino, não foram observados sinais de evasão ou acessos irregulares.
vistoria encontra 16 estações da SuperVia com falhas no controle de acesso
Arquivo pessoal
Transição do serviço de trens
A SuperVia Concessionária de Transportes Ferroviários S.A iniciou oficialmente suas operações no Rio de Janeiro em 1º de novembro de 1998. Quase 30 anos depois, a empresa vem enfrentando uma crise crescente, agravada por dificuldades financeiras e problemas de infraestrutura.
Homem pula muro da estação de trem da Supervia para dar calote na frente de policial militar
Em 2021, a concessionária entrou com pedido de Recuperação Judicial, pressionada por dívidas e a incapacidade de manter investimentos. Em 2024, a situação se agravou com a execução judicial de uma dívida de R$ 1,3 bilhão pelo BNDES.
Em resposta à iminente paralisação, um acordo emergencial foi firmado em novembro de 2024 entre o Governo do Estado e a SuperVia, estabelecendo um aporte de R$ 300 milhões do estado e um compromisso de R$ 150 milhões da GUMI, com um prazo de transição de até 270 dias para definir um novo modelo de concessão.
Passageiros denunciam agressões e roubos dentro dos trens da Supervia
Reprodução/TV Globo
Na ocasião, a empresa e o poder público se comprometeram a reorganizar o transporte antes da realização de uma nova licitação.
A malha ferroviária urbana do Rio de Janeiro tem 270 quilômetros, cinco ramais, três extensões e 104 estações. Ao todo, os trens do estado transportam cerca de 300 mil pessoas por dia útil.
📸Clique aqui e siga o perfil do RJ1 no Instagram
✅Siga o canal do g1 Rio no WhatsApp e receba as notícias do Grande Rio direto no seu celular!
O que dizem os citados
Homem pula muro de estação da Supervia com um saco enorme
Marcelo Alves/ TV Globo
Em nota, a Supervia reconheceu a evasão tarifária nas estações de trem do Rio de Janeiro. Contudo, segundo a concessionária, os números estão melhorando ao longo dos últimos anos.
“A respeito da tentativa de evasão, atualmente, 18 mil pessoas por dia, em média, viajam sem pagar a passagem de trem da SuperVia. Essa prática ilegal resulta em um prejuízo diário para a concessionária, afetando diretamente a qualidade dos serviços oferecidos. Entretanto, esse número vem diminuindo consideravelmente ano a ano, graças aos esforços da concessionária em atuar conjuntamente com diversos atores sociais. Em 2023, eram, em média, 54 mil pessoas por dia; em 2024, 29 mil pessoas por dia”.
“Para combater a evasão de renda, a SuperVia vem contando com mais colaboradores e agentes do Proeis (Programa de Integração de Segurança, da Polícia Militar), GPFER. Os agentes de controle da concessionária não têm poder de polícia para atuar na prevenção ou coerção de ações de natureza criminal. Além disso, a concessionária realiza reuniões constantes com associações de moradores, secretarias estaduais e municipais com o objetivo de diminuir a prática perigosa e criminosa, bem como no apoio para a construção e a conservação de barreiras físicas eficientes”.
“Vale ressaltar que a evasão e outras condutas irregulares nos trens e estações também refletem o grave desafio da segurança pública no estado. A SuperVia segue colaborando com as autoridades competentes para garantir um ambiente mais seguro para seus passageiros”.
O Governo do Estado do Rio de Janeiro também se manifestou sobre o relatório produzido pela equipe do vereador Pedro Duarte.
Por meio da Secretaria de Estado de Transporte e Mobilidade Urbana, o governo reconheceu que “‘a evasão tarifária é um fator de impacto direto sobre a receita operacional, contribuindo para a necessidade de aportes públicos para garantir a continuidade do serviço”.
“Por meio do Grupo de Trabalho da transição do sistema ferroviário, o Estado estuda uma série de medidas a serem adotadas para melhoria e maior controle do sistema, como redução tarifária, reforma dos muros e reforço na segurança patrimonial”.
“Em relação à segurança nos entornos das estações, o policiamento é realizado pelo Patrulhamento Tático Móvel (Patamo), além de setores de radiopatrulhamento e moto patrulhamento. Nas plataformas, o policiamento é feito pelo Grupamento de Policiamento Ferroviário (GPFer). Importante ressaltar que a Polícia Militar atua diuturnamente em apoio à concessionária, quando solicitado”.
Já a Polícia Militar se posicionou sobre a questão da falta de segurança nas estações e em outros trechos da Supervia.
Segundo a Secretaria de Estado de Polícia Militar, além das ações realizadas pelo Grupamento de Policiamento Ferroviário (GPFer) nas plataformas de embarque e desembarque de maior movimento, a Corporação emprega efetivo das unidades operacionais da região metropolitana para exercer o patrulhamento na área externas das 105 estações da SuperVia distribuídas ao longo dos 270 quilômetros de via férrea na capital e Baixada Fluminense.
“O policiamento é realizado pelo Patrulhamento Tático Móvel (Patamo), além de setores de radiopatrulhamento e motopatrulhamento em pontos estratégicos na região, atuando em apoio à concessionária sempre que solicitada.
Vale lembrar que a SuperVia integra o Grupo de Trabalho com as Concessionárias de Serviços Públicos, criado pelo comando da SEPM para compartilhar informações e atuar de forma coordenada no combate a ações criminosas ocorridas no âmbito das empresas.
Reforçamos ainda a importância do acionamento de nossas equipes diante de situações flagrantes via App 190 RJ e Central 190, assim como dos registros em delegacia, que são de extrema importância para a condução dos procedimentos investigativos.”
Homem pula a grade da Supervia para dar calote na frente de policial militar

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *