
Reservatórios do Sistema Cantareira estão com 24% da capacidade em outubro de 2025, segundo a Sabesp
Reprodução/TV Globo
Mesmo com a queda no nível das represas da Região Metropolitana de São Paulo devido à estiagem, a Sabesp aumentou a captação de água em 2025. O volume retirado para abastecimento bateu recorde e já supera o registrado antes da crise hídrica de 2014, segundo estudo.
De acordo com o levantamento realizado pelo Instituto Água e Saneamento (IAS);
Entre janeiro e setembro deste ano, a vazão média de retirada de água dos mananciais foi de 71,9 metros cúbicos por segundo (m³/s) — a maior já registrada pela companhia
O volume supera o patamar do período pré-crise hídrica (2010-2013), quando a média era de 69 m³/s. Durante a crise de 2014 a 2016, a retirada chegou a cair para 58 m³/s, voltando a subir para 62,3 m³/s no pós-crise (2017-2022).
“Em fevereiro de 2025, houve um recorde de captação, com 73 metros cúbicos por segundo. Esse aumento aconteceu justamente em um período em que as chuvas começaram a ficar abaixo da média e os níveis dos reservatórios passaram a cair de forma mais rápida”, afirma Eduardo Caetano, coordenador de conhecimento e difusão do IAS.
Segundo Eduardo, o aumento na retirada de água indica uma maior demanda, ou seja, mais usuários sendo atendidos. No entanto, ele ressalta que o crescimento também pode estar relacionado às perdas de água ao longo do sistema.
“A demanda é uma combinação entre consumo e perdas de água. Então é preciso analisar esses dois aspectos. O aumento do consumo – crescimento da população; expansão da rede e do atendimento; ligações irregulares que passaram a ser contabilizadas e cobradas. E o aumento de perdas – podem ser perdas ‘físicas’, que significa perda por vazamentos nas adutoras, redes e reservatórios; e as perdas aparentes, que são os gatos e outras situações irregulares de consumo que não é contabilizado”, afirma.
A Sabesp informou, em nota, que “o volume médio de retirada de água dos mananciais apresenta variações compatíveis com o crescimento vegetativo da população atendida e com ajustes operacionais implementados ao longo dos últimos anos” (leia nota completa abaixo).
Reservatórios baixos
Em 1º de setembro de 2025, o sistema de reservatórios de São Paulo entrou na Faixa 3 – Alerta, com cerca de 35% de armazenamento de água.
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Um mês depois, a situação se agravou e o Cantareira atingiu a Faixa 4 – Restrição, com volume abaixo de 30%, o que impôs limite de captação de 23 m³/s à Sabesp. Como medida emergencial, o governo estadual autorizou a captação suplementar de água da bacia do Rio Paraíba do Sul, com vazão média de 7,6 m³/s até dezembro.
Falta de chuva e extração de água
A diminuição dos níveis dos reservatórios está atrelada diretamente a falta de chuva e a quantidade de extração. Segundo Eduardo, no período seco, a partir de abril, as chuvas ficaram 45% abaixo da média.
“No período chuvoso, o índice também foi menor, cerca de 5% abaixo da média, e, no período seco deste ano, a redução chegou a 20%. Os reservatórios estão com menos de 30% da capacidade, e a captação precisa ser controlada”, continua.
No verão, entre os meses de janeiro, fevereiro e março, as chuvas também foram abaixo da média
“O armazenamento no Sistema no final da estação chuvosa ficou em 58%, na faixa de operação ‘atenção’ e, nesta condição a extração máxima para atender São Paulo deveria ter sido de 31 m3/s, no entanto a média de abril a agosto foi de 31,9 m3/s. Lembrando que em agosto o sistema já estava na faixa de operação ‘alerta’ na qual a extração máxima deveria ter sido de 27,0 m3/s em média, mas a média de extração de agosto foi de 31,8 m3/s, bem acima do que a Resolução ANA/DAEE específica. Portanto, a crise hídrica não é causada só pela falta de água, mas também pela demanda”, completa Adriana Cuartas, do Cemaden.
Ainda segundo a pesquisadora, as projeções do Cemaden indicam que se chover na média durante toda a estação chuvosa, no final de março de 2026, o armazenamento ficará próximo do que foi observado em março de 2025.
Plano de contingência
O governo de São Paulo na sexta-feira (24) um plano de contingência para o abastecimento de água diante do risco de uma nova crise hídrica na Grande São Paulo.
O plano prevê uma redução de pressão nos encanamentos que distribuem água pela região metropolitana de até 16 horas, exploração do volume morto de represas e até o rodízio, em um cenário mais extremo, diante da perspectiva de colapso do abastecimento.
O que diz a Sabesp
“A Sabesp informa que a operação do Sistema Integrado Metropolitano (SIM), responsável pelo abastecimento de mais de 21 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo, segue rigorosamente os parâmetros técnicos e regulatórios definidos pelos órgãos competentes, como a Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), a SP Águas (antigo DAEE) e a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
O volume médio de retirada de água dos mananciais apresenta variações compatíveis com o crescimento vegetativo da população atendida e com ajustes operacionais implementados ao longo dos últimos anos.
Após a crise hídrica de 2014-2016, a Companhia manteve políticas mais restritivas de gestão da pressão noturna. Essas medidas foram sendo balanceadas de acordo com os níveis dos mananciais e conforme ajustes regulatórios voltados ao aprimoramento da qualidade do serviço, visando a redução do impacto sobre os consumidores no período noturno.
Essas alterações explicam o incremento temporário nas médias de captação, que não representa aumento fora dos limites operacionais, tampouco descumprimento das outorgas vigentes.
Mais recentemente, em agosto de 2025, a Arsesp determinou que a Sabesp realizasse a gestão de pressão noturna como ação preventiva voltada à preservação dos mananciais diante do cenário de redução de disponibilidade hídrica, na forma estabelecida pela agência.
Desde o início da iniciativa já foram poupados mais de 25 bilhões de litros, o equivalente ao abastecimento, por dois meses, das cidades de São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá e Diadema.
A Sabesp reforça que o SIM opera de forma integrada, o que permite compensações entre diferentes mananciais, garantindo maior resiliência e segurança hídrica para a população, mesmo em períodos de estiagem.
A Companhia mantém monitoramento contínuo dos níveis dos reservatórios e das demandas de consumo, atuando com planejamento técnico, transparência e alinhamento permanente com as autoridades reguladoras e ambientais.”
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