Barragem Jundiaí fica no distrito de Taiaçupeba, em Mogi das Cruzes, e faz parte do Sistema Produtor Alto Tietê
José Antonio de Assis/TV Diário
O Sistema Produtor Alto Tietê (Spat) encerrou agosto de 2025 com 29,47% de sua capacidade — mais que o dobro do registrado em 2015, durante a crise hídrica, quando o volume era de apenas 13,82%.
Apesar da melhora numérica, Antonio Carlos Zuffo, engenheiro civil e professor de Hidrologia e Gestão de Recursos Hídricos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), alerta que os níveis ainda são preocupantes, especialmente diante da influência de fenômenos climáticos como La Niña e da persistência de um período seco.
❄️O La Niña ocorre quando há o resfriamento da faixa Equatorial Central e Centro-Leste do Oceano Pacífico. Ele é estabelecido quando há uma diminuição igual ou maior a 0,5°C nas águas do oceano.
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O sistema é composto pelas represas Biritiba, Jundiaí, Paraitinga, Ponte Nova e Taiaçupeba, localizadas em Biritiba-Mirim, Mogi das Cruzes, Salesópolis e Suzano.
O Spat representa 28% da reserva de água disponível para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), além de atender Arujá, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Poá, Ferraz de Vasconcelos, Suzano, Santo André e parte de Mauá.
Zuffo destaca que os dados não afirmam se haverá crise hídrica ou não. Isso porque há variações no regime das chuvas durante o ano e o inverno é mais seco e com menos precipitações.
O professor explica que os reservatórios de água foram construídos para manter regularidade no abastecimento, porque as chuvas alteram de um ano para o outro. Com isso, as vazões de água também mudam.
“O reservatório vai consumir o volume que foi armazenado no período chuvoso. Então, anos seguidos, com as precipitações abaixo da média, ano a ano ele vai ficando mais baixo. Ou anos seguidos que a chuva foi acima da média, ele ano a ano recupera os volumes. E nós estamos vindo de dois anos mais secos, o ano passado foi muito seco, esse ano também está sendo mais seco do que o ano passado”.
Comparativo histórico: 2015 x 2025
Durante a crise hídrica de 2014–2015, o Sistema Alto Tietê chegou a operar com menos de 14% de sua capacidade, afetando diretamente o abastecimento em cidades como Suzano, Mogi das Cruzes, Arujá e Itaquaquecetuba. Em 2025, embora o volume seja superior, a situação ainda exige atenção.
Volume das represas do Sistema Produtor Alto Tietê
Apesar da recuperação em algumas represas, como Paraitinga e Ponte Nova, outras como Biritiba apresentaram queda em relação a 2015, o que reforça a necessidade de monitoramento constante.
Chuvas irregulares e influência climática
Segundo o professor Antonio Carlos Zuffo, especialista em hidrologia da Unicamp, o atual período seco é agravado por variações no regime de chuvas e pela atuação da La Niña, que pode atrasar o início da primavera chuvosa e antecipar seu fim.
“Estamos vindo de dois anos mais secos. O ano passado foi muito seco, e este ano também está sendo mais seco do que o anterior”, afirma Zuffo.
A Organização Meteorológica Mundial estima que há 60% de chance de a La Niña impactar o Brasil ainda neste mês, o que pode comprometer a recuperação dos reservatórios.
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Medidas de contenção e economia
A Sabesp tem adotado ações para mitigar os efeitos da estiagem. Entre elas, destaca-se a transposição do rio Itapanhaú para a represa Biritiba, com capacidade de bombeamento de até 2 mil litros por segundo.
Além disso, a companhia implementou a gestão noturna, reduzindo a pressão da água durante a madrugada, o que já resultou na economia de 690 milhões de litros em apenas duas noites.
A empresa também reforça orientações à população para economizar água, como tomar banhos curtos, fechar a torneira ao escovar os dentes e evitar lavar áreas externas com mangueira.
⚠️ Alerta aceso, mas sem pânico
Embora o sistema não esteja em colapso, Zuffo ressalta que não vivemos uma situação de normalidade.
Abaixo de 40%, já é hora de acender o alerta. Não podemos afirmar que haverá uma nova crise, mas é fundamental reduzir o consumo agora”, pontua.
O especialista lembra que estamos em um ciclo climático mais seco.
“Vai durar quatro décadas, quatro décadas e meia, igual ou parecido, bem parecido com aquela que observamos já no passado, de 1935 a 1976, que foi mais seco. Depois de 1976 para 2012, foi mais úmido, foi o período em que nós tínhamos muitas enchentes em São Paulo, que o Tietê transbordava. Eram três ou cinco vezes por semana no verão. E de 2013 para cá, a gente não observa mais isso”.
Represa de Paraitinga em Salesópolis no dia 14 de agosto de 2015
Maiara Barbosa/ G1
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