
Irmãos percussionistas do Malê Debalê morreram após ataque a tiros em Camaçari, em outubro de 2024.
Arquivo Pessoal
Um homem foi preso suspeito de participar diretamente do assassinato de dois irmãos percussionistas na cidade de Camaçari, Região Metropolitana de Salvador, em 2024. Ele foi preso nesta terça-feira (21), em São Paulo, após uma ação conjunta entre a Polícia Civil (PC) dos dois estados.
O suspeito tinha um mandado de prisão preventiva pelo duplo homicídio e foi encontrado no bairro de Santana. Os irmãos foram assassinados a tiros em outubro do ano passado e eram percussionistas do bloco afro Malê Debalê. As vítimas eram Gustavo Natividade, de 24 anos, e Daniel Natividade dos Santos, de 15 anos.
Eles participavam de uma excursão e estavam em uma barraca no Emissário de Arembepe, destino turístico da cidade, quando um grupo de homens passou atirando contra o local. Além dos irmãos, outras duas adolescentes foram baleadas e chegaram a ser internadas devido aos ferimentos.
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Conforme a PC, o assassinato dos irmãos está relacionado à rivalidade entre grupos criminosos pelo controle do tráfico de drogas na região. Logo após a morte dos jovens, o presidente do do Malê Debalê, Cláudio Araújo, afirmou que os eles podem ter sido confundidos, pois não tinham envolvimento com a criminalidade.
Além do homicídio dos artistas, o suspeito preso é apontado como envolvido em um triplo homicídio ocorrido em 2023. Ele teria participado da morte de outros três jovens, identificados por ele como integrantes de uma facção rival.
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Relembre o caso
À época, a produção da TV Bahia apurou que as quatro vítimas moravam no bairro de Itapuã, em Salvador, e estavam na localidade a passeio, em uma pequena excursão que contou com 150 pessoas, divididas em três ônibus.
Os familiares dos irmãos contaram que Gustavo não queria ir para o passeio e chegou a pedir o dinheiro de volta. Como não seria ressarcido, resolveu acompanhar o irmão, para que ele não fosse sozinho.
Além de tocar instrumentos no Malê Debalê, eles trabalhavam com a avó vendendo acarajé na praia de Itapuã. A idosa, que preferiu não revelar a identidade, contou que o ataque aconteceu após eles tirarem uma foto supostamente fazendo sinais com as mãos, que podem ter sido confundidos com gestos de facções.
Irmãos percussionistas do Malê Debalê morrem após ataque a tiros com quatro pessoas baleadas na Bahia
Reprodução/Redes Sociais
Um amigo dos irmãos, que também estava no passeio, foi atingido por um tiro de raspão no pé direito. Ele contou que estava distante de Gustavo e Daniel no momento do ataque, mas foi atingido quando assustou e correu para fugir dos tiros.
“Foi uma coisa rápida, os caras chegaram em uma moto e um carro, já atirando”, afirmou o jovem, que preferiu não revelar a identidade.
Os corpos foram levados para necropsia no Instituto Médico Legal (IML) de Camaçari. A Fundação Gregório de Mattos e o Polo Criativo Boca de Brasa lamentaram as mortes de Daniel Natividade e Augusto Natividade.
‘Erro grotesco’, diz presidente do Malê
O presidente do Malê Debalê, Cláudio Araújo, acredita que os jovens foram confundidos com outras pessoas, porque eles não tinham envolvimento com a criminalidade.
“Foi uma noite pesada, que eu não dormi, porque foram quatro jovens baleados e dois deles perderam a vida. Eles não fazem parte do que fizeram eles perder a vida”, lamentou, em entrevista ao Bahia Meio Dia, programa da TV Bahia.
Segundo Cláudio Araújo, Daniel e Gustavo eram jovens “corretos”, que dividiam a rotina entre tocar instrumentos no Malê Debalê e vender acarajés com a avó.
“Quando não estavam lá [no tabuleiro dos quitutes], estavam aqui apertando instrumentos, arrumando a sede e fazendo apresentações. Ninguém venha me dizer que eles estavam envolvidos com crime, não admito”.
“Estou muito triste, acho que foi um erro grotesco, porque isso não era para esses jovens”, afirmou Cláudio Araújo.
Crime aconteceu no Emissário de Arembepe
Divulgação/Prefeitura de Arembepe
O Malê Debalê foi fundado em 1979, em Itapuã, onde eles viviam. A agremiação foi criada por moradores que desejavam ver o bairro representado no carnaval de Salvador, e se tornou um dos principais blocos afros da folia baiana.
A dança e a música feitas pelo grupo têm forte ligação com a tradição de origem africana. O nome é uma homenagem aos Malês, negros muçulmanos que lutaram contra o processo de escravidão e representaram, na Bahia, uma resistência ativa.
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Irmãos percussionistas do Malê Debalê morrem após ataque a tiros
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