Está na história do cinema. Em 1950, Hollywood viu-se à beira do abismo. A novidade da televisão começara a roubar seus espectadores aos milhões. Os americanos, na esteira de sua enorme prosperidade no pós-guerra, estavam se mudando de apartamentos nas metrópoles para casas nas cidades próximas, com jardim e cerquinha, onde podiam levar uma confortável e medíocre vida doméstica. E o aparelhinho na sala lhes dava comédias de meia hora, programas de sorteios e aulas de ginástica o dia inteiro. Adeus, Robert Taylor e Ava Gardner.
Antes que a televisão lhes esvaziasse a última sala, os estúdios apelaram para o único segmento ao seu alcance: o tamanho da imagem. Enquanto os filmes eram projetados numa tela que tomava uma parede normal, as imagens da TV se espremiam numa telinha quadrada, de 12,5 polegadas, em PB, com baixa definição, som de lata e um chumaço de Bombril na antena. Mesmo assim, era preciso dar às plateias algo que a TV nunca poderia oferecer.
Vieram, em 1952, o Cinerama, com a projeção em três telas dando a volta à sala. e, em 1953, o filme em 3D, três dimensões, mostrando besteiras como girafas cujos pescoços pareciam sair da tela. Ambos fracassaram, pelo custo de adaptação ou pelo desconforto do espectador. O processo vitorioso, também em 1953, foi o CinemaScope, com sua tela panorâmica logo universalmente adotada e aperfeiçoada por sucedâneos -até hoje. Mas a tela larga do cinema só amenizou a vitória final da televisão, cuja tela também cresceu, chegando hoje às há pouco impensáveis 50 polegadas.
Agora é a televisão que, derrotada pelo celular, está à beira do abismo. A Geração Z já nem sabe para o que serve aquele aparelho. Daí os fabricantes de televisores estarem apelando para o que foi um dia a salvação do cinema: as telas gigantes, de 150 ou 180 polegadas. Só falta torná-las ao alcance das massas.
Não adiantará. Isso apenas amenizará ou adiará a obsolescência da TV. O consolo é saber que, um dia, o celular também estará à beira do abismo.
Leia mais (09/21/2025 – 08h00)