Avó de menino atropelado por trator em aterro no PI fala sobre morte do neto
A Polícia Civil do Piauí indiciou um tratorista de 29 anos por homicídio culposo — quando não há intenção de matar — pela morte de David Kauan Silva da Costa, de 12 anos. O menino morreu na madrugada de 22 de junho, enquanto dormia no aterro sanitário de Teresina.
O delegado Thiago Damasceno, responsável pelo inquérito, informou ao g1, nesta segunda-feira (15), que catadores costumam dormir no aterro durante a pausa das atividades, entre 23h e 0h. Após esse intervalo, caminhões e tratores voltam a operar no local.
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David não acordou e foi atropelado por um trator. O inquérito concluiu que a baixa iluminação e a falta de atenção do motorista causaram a morte.
O exame cadavérico confirmou que as lesões no corpo da vítima eram compatíveis com a esteira do trator. David Kauan morreu de insuficiência respiratória aguda provocada pelas múltiplas fraturas nas costelas após ser atropelado pelo trator.
“Foi uma fatalidade. O tratorista falou que conhecia o menino, era amigo da família. Mas lá é um local de baixíssima luminosidade. E ainda tem a questão da insalubridade, os catadores realmente dormem em qualquer lugar. Ficou constatado que o motorista sabia disso, então poderia ter agido com mais atenção”, explicou Thiago Damasceno.
A Polícia informou que, segundo catadores ouvidos, a falta de controle de acesso e de estrutura no aterro já causou outros acidentes semelhantes. Em alguns casos, veículos passaram por cima de braços ou pernas de catadores.
Em maio de 2019, o catador Antônio Ferreira da Silva, de 42 anos, também morreu após ser atingido por uma escavadeira. Uma catadora que presenciou o acidente denunciou que o motorista tentou esconder o corpo, mas foi impedido por outro trabalhador.
O inquérito da morte do menino David Kauan foi concluído em 28 de julho, um mês e seis dias após a morte. O tratorista responde ao processo em liberdade.
Menino queria juntar dinheiro para comprar bicicleta
A família de David Kauan contou que ele foi ao aterro escondido para juntar dinheiro e realizar o sonho de comprar uma bicicleta motorizada. Segundo a avó, Maria Albetiza, ele havia pedido para trabalhar no local, mas foi proibido pela mãe.
A mãe do garoto, que trabalha como catadora, acreditava que ele estava dormindo em casa. A avó relatou que David era sonhador, queria ser policial e dizia que daria uma vida melhor à mãe.
Desativação parcial do aterro foi anunciada
A desativação parcial do aterro sanitário de Teresina foi anunciada em 3 de julho pelo prefeito Silvio Mendes (União Brasil), 11 dias após a morte de David. A decisão atendeu à cobrança de órgãos de controle para que o município cumpra a Lei de Resíduos Sólidos e encerre o uso do aterro.
Segundo o prefeito, apenas os carregamentos de varrição e capina serão depositados no local. “Como não vai ter nada mais de utilidade, nem metal, nem vidro, nem papelão para ser coletado, ninguém vai lá atrás de capim ou mato”, disse.
No mesmo dia, após visita ao aterro, o presidente da Empresa Teresinense de Desenvolvimento Urbano (Eturb), Vicente Moreira Filho, elaborou um relatório com medidas para restringir o acesso ao local.
O documento propôs reforço na vigilância armada e cadastramento dos trabalhadores. A ação foi motivada por vereadores, que constataram que apenas seis vigilantes cuidavam dos 50 hectares do aterro.
Em reunião no dia anterior, 2 de julho, representantes do Ministério Público do Piauí, do Ministério Público do Trabalho e do Tribunal de Contas do Estado propuseram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).
O acordo prevê medidas como coleta seletiva, contratação de aterros privados e inclusão de catadores em cooperativas. Os órgãos ressaltaram que o lixão já deveria ter sido encerrado, conforme determina a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Menino de 12 anos morre atropelado por trator em aterro de Teresina
Edivaldo Cardoso/TV Clube
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