Uso da IA melhora produtividade e sustentabilidade na cotonicultura baiana
O uso da Inteligência Artificial (IA) na cotonicultura baiana foca em melhorar a produtividade, aumentar a sustentabilidade e amenizar o desperdício de insumos. O resultado disso, segundo a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri) da Bahia, é um manejo eficiente e suporte inteligente ao agricultor, de forma integrada, com tecnologia aplicada, capacitação e planejamento estratégico.
Entre as soluções utilizadas estão o sensoriamento remoto, imagens de drones e de satélites, além de softwares para cruzamento de dados, conforme explica a professora de agronomia da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob) e doutora em fitotecnia, Miriam Nogueira.
O sensoriamento remoto capta informações sobre lavouras e solos à distância, por meio de sensores conectados a satélites, drones ou aviões para detectar a radiação eletromagnética refletida ou emitida pela vegetação. Com isso, é possível fazer uma análise mais aprofundada da plantação.
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As imagens de drones e satélites ajudam a identificar pragas, doenças, falhas e até mapear a qualidade de fibra do algodão.
“As câmeras dos drones capturam imagem pela cor e a gente consegue fazer uma diferença pela coloração da folha. Se é de uma folha sadia ou se é uma ramulária [um tipo de fungo], se é uma alternária [outro tipo de fungo]… Então dá para fazer esse monitoramento via voo com drone”, pontuou Miriam.
Drone sobrevoa plantação de algodão na Bahia
Rogério Inoue/Kasuya Inteligência Agronômica
Após a coleta de dados, é possível cruzar essas informações através da Inteligência Artificial preditiva, que utiliza algoritmos de aprendizado de uma máquina para analisar os dados colhidos e identificar padrões.
Segundo Luís Eduardo Kasuya, diretor comercial na Kasuya Inteligência Agronômica, o uso da IA preditiva ajuda na tomada de decisão e minimiza a margem de erro do ser humano.
“Dá para cruzar informações de clima, solo, histórico da safra, material genético, entre outras. Assim, conseguimos entender cada particularidade da fazenda”, destacou.
Lavoura inteligente
Lavoura de algodão na Bahia, um dos principais estados produtores do Brasil
Ernesto Rodrigues/Agência Estado
O uso de equipamentos com câmeras e algoritmos permitem a pulverização seletiva com IA na cotonicultura. Essa combinação facilita o “escaneamento” da lavoura para identificar plantas daninhas e acionar o pulverizador somente no alvo, o que impacta diretamente na rentabilidade, sustentabilidade e uso de insumos.
Na pulverização tradicional, o herbicida é aplicado em toda a lavoura, mesmo onde não há plantas daninhas. O resultado é:
uso excessivo de produtos químicos;
mais custo;
contaminação do solo;
degradação do meio ambiente.
Outras soluções tecnológicas apontadas pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri) como potencial direto para a cotonicultura são o sensor WEED-IT e o robô cortevano. Ambas foram apresentadas na Bahia Farm Show deste ano, em Luís Eduardo Magalhães, no oeste do estado.
🌱 O sensor WEED-IT, que é treinado com IA, diferencia em tempo real entre cultura e plantas daninhas pela fluorescência da clorofila.
🌱 Já o robô cortevano, atua como consultor agrícola digital, respondendo perguntas sobre manejo de pragas, uso de biológicos e outras práticas.
Além disso, a Seagri, em parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), está em fase de alinhamento para adoção à plataforma MapaConecta, cujo objetivo é integrar IA, dados, tecnologias e práticas sustentáveis para promover um ecossistema digital colaborativo.
Lavoura de algodão na Bahia
Rogério Inoue/Kasuya Inteligência Agronômica
WhatsApp do algodão
Um desafio ainda presente no campo é aplicar soluções simples que melhorem a eficiência operacional. Para driblar esse problema, os cotonicultores têm utilizado grupos em aplicativos de mensagem integrados com IA, conforme explica o diretor comercial da Kasuya Inteligência Agronômica, Luís Eduardo Kasuya.
A integração do aplicativo de mensagens com a IA possibilita mais simplicidade e organização na rotina. Com uma programação específica, o agricultor adiciona no app todo o organograma da fazenda e detalha os processos para a realização das tarefas.
“Por exemplo, eu vou determinar a aplicação de um produto biológico na cultura do algodão, certo? Eu faço a recomendação; a inteligência artificial, por sua vez, vai entender quem que é o responsável por aquela aplicação na fazenda, e vai gerar atividade para o WhatsApp desse responsável”, explicou.
Luis Henrique Kasuya, Sirlei Kasuya, Luís Eduardo Kasuya, Gabriel Kasuya e Higor Kasuya
Arquivo Pessoal
A IA entende, inclusive, quando a atividade é prioritária e notifica o funcionário para alertá-lo de que o trabalho precisa ser finalizado o quanto antes.
“Enquanto ele não realizar essa tarefa e provar que ela foi realizada, a IA vai continuar cobrando ele. E o bacana disso tudo é que os gestores têm um dashboard no computador ou celular para acompanhar todas essas atividades”.
Potência da cotonicultura baiana
A Bahia é o segundo maior estado do país a produzir algodão, ficando atrás apenas do Mato Grosso, conforme aponta o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Além disso, o estudo Produção Agrícola Municipal (PAM) 2024 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que, das 10 cidades baianas que mais produzem algodão, nove ficam no oeste. A professora Miriam Nogueira explica que isso ocorre devido a uma junção de fatores presentes na região.
“A região oeste é onde nós temos a maior fronteira agrícola para a produção de grãos do estado, onde está concentrada a agricultura em larga escala, altamente tecnificada, áreas planas, boas condições de solo, de clima, distribuição, faixa de temperatura adequada e disponibilidade hídrica”.
Confira as 10 cidades baianas que mais produzem algodão
O algodão cultivado no estado se destaca pela alta qualidade da fibra e também pelo comprimento – considerado um fator importante para a produção de tecidos de luxo e fios mais finos e resistentes. A fibra longa e extralonga é mais valorizada na indústria têxtil.
A Bahia busca, inclusive, consolidar e ampliar sua relevância no setor têxtil por meio do aumento da produtividade, competitividade, da incorporação de inovações tecnológicas e da adoção de práticas sustentáveis que favoreçam sua inserção mais efetiva no mercado internacional.
O futuro do algodão não é só produzir mais, mas produzir com sustentabilidade e inteligência. E a Inteligência Artificial já está mostrando que pode ser a grande parceira do produtor baiano.
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