Vereador investigado por três estupros tentou abrir CPI contra Conselho Tutelar de Normand
O vereador Hudson Nayron (PSD), investigado pela Polícia Civil por suspeita de estuprar uma grávida, de 18 anos, e duas adolescentes, uma de 15 anos, e outra, de 17, tentou abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o Conselho Tutelar de Normandia, interior de Roraima.
O Conselho Tutelar de Normandia foi um dos órgãos responsáveis por levar à Polícia Civil as denúncias de estupro contra o vereador.
A CPI foi proposta no dia 9 de setembro deste ano, mesmo mês em que a Polícia Civil abriu inquérito contra o vereador para investigar o crime cometido contra as duas adolescentes.
À época, Hudson foi apresentado como relator na sessão. A ideia dele era apurar supostas irregularidades administrativas e condutas ilícitas do Conselho Tutelar da cidade.
O requerimento da CPI foi lido pelo presidente da Câmara, Fernando Bolacha (PP). Ele disse que o documento foi “previamente assinado” por cinco vereadores: Macarrão Taxista (PP), Aldenes do Gas (Republicanos), Nathãn Oliveira (PSD), Eduardo Arona (Republicanos) e Hudson Nayron (PSD).
A CPI, no entanto, não chegou a ser instaurada e não avançou porque no dia seguintes todos os vereadores retiraram as assinaturas.
“No dia seguinte os vereadores repensaram e retiraram as assinaturas. Quando isso acontece, automaticamente a CPI é cancelada”, explicou Bolacha.
A retirada das assinaturas foi publicada no Diário Oficial de Normandia do 15 de setembro. No dia 16, a Polícia Civil abriu inquérito para apurar o caso da grávida de 9 meses que denunciou ter sido estuprada pelo vereador.
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O que o vereador pretendia com a CPI
No requerimento que pedia a CPI, Hudson falava em supostas omissões de conselheiros em casos com crianças e adolescentes, desaparecimento de documentos, uso indevido do celular institucional e uso do carro oficial de maneira inadequada.
Vereador de Normandia, Hudson Nayron, é investigado por estupro de três mulheres
Reprodução/Instagram
Hudson chegou a dizer que tinha provas e testemunhas sobre as acusações. Em meio ao pronunciamento, um dos conselheiros do município, se manifestou e houve uma discussão entre os dois.
“Estava na casa de um amigo meu, no outro dia, teve uma nota de repúdio com meu nome, dizendo que agredi e que não respeito o conselho tutelar. Não era eu que estava fazendo uso de bebida alcoólica num carro oficial do conselho”, disse Hudson.
Na avaliação do conselheiro Gerfson Glaubert, que estava no dia da sessão, disse que a tentativa de Hudson de investigar o órgão foi para “tirar o foco sobre as denúncias que ele responde na delegacia”
“Foi uma tentativa de golpe pra tentar. Colocar o nosso trabalho em dúvida perante a sociedade, e tirar o foco sobre as denúncias que ele responde na delegacia, sobre estupro a qual o Conselho Tutelar atuou, na tentativa de se passar por vítima. É lamentável o que aconteceu, usando o poder que tem de parlamentar para usar a tribuna e fazer falsas acusações”, disse.
Procurado sobre o assunto, o Conselho Tutelar de Normandia e o vereador Hudson não enviaram resposta até a última atualização.
O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), responsável por apurar denúncias contra o Conselho Tutelar, informou que até esta quarta-feira não havia recebido nenhum relato formal de irregularidade.
O que dizem os vereadores de Normandia
O vereador Aldenes do Gas informou que a assinatura dele ocorreu de maneira prévia, antes da discussão em plenário, como um ato de apoio inicial à abertura do debate:
“No entanto, após acompanhar de perto os fatos apresentados e buscar mais informações, compreendi que, na minha avaliação, não havia elementos suficientes que justificassem a continuidade da CPI. Por isso, decidi retirar a assinatura”.
O vereador Nathãn Oliveira afirmou que declinou do apoio em razão da tensão do assunto.
“O clima ficou tenso e avaliei que não era o momento ideal para dar continuidade à CPI. Isso porque o vereador tem acusações contra o conselheiro, e o conselheiro também tem acusações contra o vereador. Assim, a Comissão ficaria sem legitimidade”, disse.
A reportagem procurou os demais vereadores citados, mas eles não responderam até a última atualização.
Vereador investigado pediu afastamento
Em meio às instigações de estupro e do recuo dos colegas em seguir adiante com a CPI, Hudson Nayron, pediu 30 dias de afastamento do cargo na sessão dessa segunda-feira.
No pedido, justificou que queria se afastar da função para “provar que não faço parte do que estão me acusando”.
“Que meus colegas recebessem ele e concordassem com meu afastamento para não atrapalhar e nem direcionar nada que esteja direcionando a perseguição para o conselheiro. Eu quero pedir meu afastamento e deixar essa responsabilidade[ da CPI] para cada um de vocês, porque eu sei que vocês são capazes e tratam as coisas com muita seriedade”, destacou Hudson.
Todos os casos de estupro são apurados pela delegacia de Normandia. A denúncia de estupro contra a grávida será encaminhada à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), em Boa Vista, onde o crime ocorreu.
Nesta quarta-feira (24), o presidente do Partido Social Democrático (PSD) em Roraima, deputado federal Zé Haroldo Cathedral, informou que abriu processo disciplinar para expulsão do vereador Hudson Nayron da sigla.
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