Entenda como funcionava o esquema de rachadinha em gabinete de vereador preso em Manaus
A movimentação atípica em contas pessoais motivou a investigação que levou à prisão do vereador Rosinaldo Bual (Agir), em Manaus. Apenas em 2025, o parlamentar movimentou R$ 5 milhões, valor considerado incompatível com o salário mensal de pouco mais de R$ 26 mil, segundo o Ministério Público do Amazonas (MP-AM). O órgão aponta a existência de um esquema de rachadinha dentro do gabinete do parlamentar.
Bual e a chefe de gabinete dele, identificada como Luzia Seixas Barbosa, foram presos na sexta-feira (3) durante a “Operação Face Oculta”, conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). A ação cumpriu dois mandados de prisão preventiva e 17 de busca e apreensão.
Segundo o Ministério Público, a quebra de sigilo bancário autorizada pela Justiça revelou diversas transferências feitas diretamente para a conta pessoal de Rosinaldo Bual.
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O promotor Leonardo Tupinambá afirmou que o vereador chegou a gastar mais do que recebia oficialmente como parlamentar.
“Ele inclusive gastava em cartão de crédito anualmente mais do que ele recebia na Câmara Municipal”, disse.
Ainda conforme o MP, o dinheiro era lavado em empresas de fachada, como escritórios de despachantes e locadoras sem funcionários, mas que registravam movimentação elevada.
O caso agora seguirá para a fase processual. “Durante o curso do processo, ele terá oportunidade de provar a origem desses recursos e de outros bens apreendidos”, explicou o promotor Leonardo Tupinambá.
PERFIL: Quem é Rosinaldo Bual, vereador de Manaus preso em operação por suspeita de rachadinha
Como funcionava esquema de rachadinha
De acordo com o Gaeco, os 50 servidores do gabinete eram obrigados a repassar metade do salário ao vereador. Os pagamentos aconteciam no dia do depósito, em dinheiro ou por transferência bancária.
“O dinheiro ia primeiramente para quatro a cinco pessoas da equipe dele e depois eram revertidos em benefício do parlamenta”, explicou o promotor Leonardo Tupinambá.
A investigação aponta ainda que Luzia Seixas, a chefe de gabinete dele, atuava como operadora principal do esquema, sendo responsável por cobrar diretamente dos servidores a “devolução” de parte das remunerações.
Durante o atual mandato, o terceiro como vereador, Bual teria contratado mais de 100 pessoas, que permaneciam em média três meses no cargo. O objetivo seria apenas preencher as vagas e garantir o desvio dos salários.
Cofres apreendidos
Cofres são apreendidos em posse de vereador suspeito de rachadinha em Manaus
Durante a ação, os agentes encontraram três cofres: um na casa de Bual, outro na casa da mãe dele e o terceiro no sítio do vereador. Veja no vídeo acima.
Segundo o MPAM, Bual se recusou a fornecer as senhas. Os três cofres apreendidos foram abertos com apoio do Corpo de Bombeiros. No interior de um deles, foram encontrados R$ 390 mil em espécie, dois cheques que superavam R$ 500 mil e diversos documentos, entre os quais passaportes.
A investigação indicou que os valores retidos também eram usados em um esquema de agiotagem.
O vereador também foi preso em flagrante pelo crime de posse irregular de arma de fogo de uso permitido.
Após audiência de custódia, a Justiça manteve a prisão de Bual e de Luzia Seixas. Eles foram levados a unidades prisionais do Amazonas.
A Justiça também determinou o afastamento de Bual do cargo por 120 dias, além do bloqueio de R$ 2,5 milhões em bens e da quebra de sigilos bancários e telemáticos. O objetivo é garantir o ressarcimento aos cofres públicos.
Operação Face Oculta
Divulgação/MP-AM